O clima parece bem mais amistoso. Durante o Sports Summit, evento que congrega a indústria do esporte, Marcelo Paz, presidente do Fortaleza e um dos principais representantes da Liga Forte Futebol (LFF), foi visto aos abraços com Thairo Arruda, diretor geral da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Botafogo e líder da comissão da Liga do Futebol Brasileiro (Libra) que negocia a unificação de propostas.
Desde que surgiram com propostas distintas para a formação de uma liga brasileira de clubes, Libra e LFF tiveram períodos de proximidade e atritos. O maior afastamento aconteceu no segundo semestre de 2022 até o início deste ano, quando os grupos deixaram até de se falar.
Distanciamento
Em fevereiro, a Libra deu um primeiro aceno para a retomada do diálogo. O grupo divulgou uma proposta de distribuição de receitas mais igualitária e próxima do que queria a LFF: que 45% das receitas fossem divididas de maneira igualitária entre os clubes da Série A, 30% por performance e 25% por meio de engajamento.
No dia seguinte, a Forte Futebol respondeu de forma contundente, estabelecendo que não abria mão de “cláusulas pétreas” que não estavam abarcadas na proposta da Libra, que eram a rejeição de um período de transição com mínimo garantido para Flamengo e Corinthians, times que recebem maior remuneração atualmente, a distribuição de 20% para as equipes das Séries B e C e que o time mais bem remunerado na elite não ganhasse mais do que 3,5 vezes em relação ao clube com menor remuneração.
Atualmente, a Libra é formada por 18 equipes, sendo 11 da Série A e 7 da Série B. Estão no grupo: Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo, Vasco e Vitória.
Já a LFF é formada por 26 times, com 9 na primeira divisão, 12 na Segundona e 5 na Série C: ABC, Athletico-PR, Atlético-MG, América-MG, Atlético-GO, Avaí, Brusque, Chapecoense, Coritiba, Ceará, Criciúma, CRB, CSA, Cuiabá, Figueirense, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Londrina, Náutico, Operário-PR, Sport, Vila Nova e Tombense.
O Botafogo-SP é o único clube, entre os 40 que disputam as Séries A ou B do Brasileirão, que não faz parte de nenhum dos dois grupos.
Reaproximação
No entanto, desde então, houve a nomeação de uma comissão tanto na Libra como na LFF para a retomada das discussões. Quatro reuniões aconteceram, sendo uma presencial em São Paulo (SP).
Pela Libra, esse diálogo é conduzido por Thairo Arruda (Botafogo), Thiago Scuro (Red Bull Bragantino), Duilio Monteiro Alves (Corinthians) e Gabriel Lima (Cruzeiro). Da Forte Futebol, participam desse grupo Marcelo Paz (Fortaleza), Sérgio Coelho (Atlético-MG), Alessandro Barcellos (Internacional) e Marcus Sallum (América-MG). Mário Celso Petraglia (Athletico-PR) participaria dos encontros, mas se ausentou por motivo de saúde.
Houve um diálogo sobre os pontos que distanciavam os dois grupos e a produção de planilhas com as propostas de distribuição de receitas. Esse material está no momento sendo analisado pelas equipes técnicas de cada grupo. Não há uma nova reunião agendada, mas de ambos os lados existe otimismo para que uma solução esteja próxima.
“Acho que nós já andamos 80%. Faltam 20%”, afirmou Marcelo Paz à Máquina do Esporte.
Princípio de Pareto
O presidente do Fortaleza, porém, fez uma analogia ao princípio estabelecido pelo economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) de que 80% dos resultados são gerados por 20% das causas. Ou seja, esses 20% que ainda separam Libra e Forte Futebol talvez sejam os pontos mais difíceis para a chegada ao consenso.
“Segundo o Princípio de Pareto, os 20% finais é que vão dar o resultado todo. Então, que a gente possa caminhar esses 20% finais. São às vezes os mais difíceis. Mas acho que a gente tem maturidade, inteligência e necessidade de que isso possa acontecer”, destacou o dirigente.
Unanimidade e veto
Mas quais são os pontos em que há essa aproximação?
Uma das principais críticas da LFF à Libra foi verbalizada não por alguém da Forte Futebol, mas pela presidente do Palmeiras, Leila Pereira, há duas semanas. À ocasião, a dirigente criticou publicamente o mandatário do Flamengo, Rodolfo Landim, sobre o item do estatuto da Libra que estabelece que mudanças na distribuição de verba só poderiam acontecer com a aprovação unânime dos dirigentes.
A cláusula é vista por membros da LFF como uma forma de manter privilégios para Flamengo e Corinthians. Aparentemente, Leila Pereira, um dos principais nomes da Libra, mostrou concordar com a ideia.
“Luto por uma liga em que haja distribuição homogênea de receitas. Não quero o bem só do Palmeiras, quero um futebol forte”
Leila Pereira, presidente do Palmeiras
Houve quem, dentro da LFF, interpretasse que o uso do termo “futebol forte” foi proposital, como um agrado ao grupo Forte Futebol.
O fato é que há discussão na Libra para substituir a polêmica regra da unanimidade por um novo mecanismo: o “poder de veto”. Ou seja, qualquer clube teria o direito de impor o veto, desde que provasse, com números, que uma mudança na distribuição de receitas faria com que perdesse muito dinheiro.
Isso favoreceria tanto Flamengo e Corinthians como algum time com menor poder de arrecadação e engajamento na Série A, como Cuiabá e Red Bull Bragantino. A ideia, que ainda não foi aprovada pela Libra, é vista com simpatia pela LFF.
Paraquedas
Outra fonte de distanciamento é na questão da distribuição de verbas para as Séries B e C. A Libra defendia 15% do bolo para a Segunda Divisão e nenhum dinheiro para a Terceirona, vista como um campeonato que continuará sendo gerido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Já a LFF propunha 18% para a Segundona e 2% para a Terceira Divisão, pensando em ajudar times de tradição que hoje estão neste campeonato, como Remo, Paysandu, Náutico e CSA.
“A gente está construindo soluções inteligentes. Basicamente é esse o trabalho da nossa comissão: olhar muito a fundo cada um desses tópicos, entender a complexidade de cada um deles e achar soluções inteligentes. Esse tópico está totalmente superado”, afirmou Thairo Arruda.
A proposta que pode fazer com que haja um consenso é estabelecer mecanismos “paraquedas”, que ajudassem times tradicionais que caíssem de divisão a não ficar descapitalizados na temporada seguinte. A lógica seria examinar o histórico de cada clube e ajudá-los em um momento de descenso. Essa regra beneficiaria quem caísse para as Séries B ou C.
Trata-se de algo que a Globo fazia, anos atrás, com os clubes grandes que caíam para a Segunda Divisão e tinham a chance de manter seus ganhos de direitos de TV na temporada seguinte, fazendo com que não houvesse uma queda súbita de receita.
*Colaborou: Pedro Melo – São Paulo (SP)