Makkabi Berlin se torna primeiro time judeu a disputar torneio criado na Alemanha nazista

Jogadores do Wolfsburg e do Makkabi Berlin posam antes de se enfrentarem pela Copa da Alemanha - Shahar Azran / Wolfsburg

O Makkabi Berlin atingiu um marco importante neste domingo (13), ao se tornar o primeiro clube de origem judaica a disputar a Copa da Alemanha, torneio criado em 1935, em pleno regime nazista.

A equipe da capital alemã, que disputa a quinta divisão, um torneio semiamador, se classificou para a competição ao conquistar pela primeira vez o título da Copa de Berlim, o que garantiu o lugar do time entre os 64 clubes que competem na Copa da Alemanha.

Em sua estreia, no Mommsenstadion, em Berlim, o Makkabi enfrentou o Wolfsburg, time da primeira divisão, que é apoiado pela montadora Volkswagen. A equipe da capital alemã não fez frente ao adversário e levou uma goleada de 6 a 0. Mas o resultado foi o que menos importou.

Origem

O Makkabi foi fundado em 1970 por sobreviventes do Holocausto. Além da política de extermínio nazista, os judeus também haviam sido excluídos das competições esportivas durante os anos 1930. Assim, a classificação para uma competição surgida durante o período de totalitarismo na Alemanha é bastante simbólica. Mas nem todo mundo achou que a classificação do Makkabi tenha sido um marco.

“O jogo gera uma expectativa, mas não deve haver nada histórico nisso. Por 90 minutos ou mais, tudo gira em torno de quem vence uma partida de futebol. Nada mais. Esses momentos geram uma magia que eu desejaria que ocorresse com mais frequência no cotidiano da nossa sociedade”, minimizou, antes do jogo, Josef Schuster, líder do Conselho Central de Judeus na Alemanha, em entrevista à agência Associated Press.

Reação mais entusiasmada teve o Wolfsburg, que postou em sua conta oficial no Instagram uma foto com os dois times posados juntos e um agradecimento: “Obrigado por essa grande tarde de futebol com você, Makkabi Berlin”.

Gol anulado

Com nível técnico nitidamente superior, o Wolfsburg marcou dois gols em menos de 10 minutos. Mas o primeiro tempo terminou com vitória de apenas 2 a 0, graças às defesas do goleiro Jack Krause, do Makkabi. O ponta-direita Kanto Voahariniaina ainda chegou a descontar para o time da casa, mas o gol foi anulado pela arbitragem por impedimento.

Cansado, o time da capital alemã foi presa fácil na segunda etapa, quando a goleada foi de fato consolidada.

“Acho que tomamos um ou dois gols a mais [que esperava]”, lamentou o meia Doron Bruck, capitão do Makkabi, que também lamentou o gol invalidado.

“Não foi impedimento. Mas eles foram melhores. Tem que respeitar. Acho que nos apresentamos bem”, afirmou.

Multiculturalismo

Bruck é um dos jogadores judeus do time. A identidade judaica de Makkabi desempenha um papel central na equipe. O escudo do time conta com a Estrela de Davi, um dos principais símbolos judeus. O clube, porém, se orgulha de ser aberto a todos, independentemente de religião ou origem. O atacante Voahariniaina, aliás, autor do gol que poderia ter sido o primeiro do Makkabi na Copa da Alemanha e um dos destaques do time, é africano. Nascido em Madagascar, de escassa tradição no futebol, ele atua pelo Makkabi desde 2019.

O time ainda conta com o brasileiro Guilherme Henrique, que entrou no segundo tempo. O centroavante atuou no Brasil por Ipatinga e Itaúna, ambos do interior de Minas Gerais.

Pelo lado do Wolfsburg, o único brasileiro a participar do jogo foi o lateral-esquerdo Rogério, titular da equipe. O destaque da partida também fala português. O atacante Tiago Tomás, que começou a carreira no Sporting, entrou no segundo tempo e marcou dois gols na goleada.

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