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Para produtor de “A Máfia do Apito”, fraudes nunca irão acabar, pois criminosos estão à frente da lei

Em entrevista à Máquina do Esporte, Bruno Maia, CEO da produtora Feel the Match, comentou sobre o escândalo que abalou o futebol brasileiro em 2005

Bruno Maia é o produtor da série documental "Máfia do Apito" - Bruno Bezerra/ Feel The Match

Brasileiros com mais de 30 anos e que são aficionados em futebol certamente devem sentir harmonia de sua aura sendo profundamente abalada, quando ouvem o nome Edilson Pereira de Carvalho.

O ex-árbitro foi o protagonista do escândalo conhecido como “Máfia do Apito”, que manipulou resultados na Série A do Brasileirão de 2005, resultando em anulação de jogos e bagunçando a classificação final do campeonato daquele ano, que acabou sendo vencido pelo Corinthians.

Essa história é o tema central da série documental lançada em parceria com o canal Sportv e atualmente disponível na plataforma Globoplay.

Produzida pela Feel the Match, “A Máfia do Apito” estreou 20 anos após esse escândalo histórico, que ainda hoje rende debates intermináveis ao redor do Brasil.

O CEO da produtora, Bruno Maia, concedeu entrevista à Máquina do Esporte, em que comentou sobre como surgiu a ideia da série e também analisou a questão das fraudes no futebol.

De acordo com o produtor da série, o objetivo principal de “A Máfia do Apito” era mostrar ao público uma grande história do universo do futebol.

“A série não é uma investigação ampla, com pretensão de resolver ou denunciar, mas sim de ser entretenimento e engajar o público numa superaventura, que envolve crime, futebol, investigação”, explicou.

Ele acredita, porém, que a produção pode contribuir com a reflexão sobre o problema das fraudes no futebol.

“A série pode ajudar a que a gente continue atento. Acredito que as melhorias têm acontecido. Não sou alguém que vê [a situação] com pessimismo. O crime vai continuar existindo, mas temos de seguir diligentes”, afirmou.

Crime evolui

O produtor considera que, nas últimas décadas, o futebol conseguiu avançar na criação de mecanismos para conter os esquemas de manipulação.

“Futebol evoluiu bastante, sobretudo na formação dos árbitros, no controle da qualidade de quem vai apitar os jogos. A legislação também evoluiu, a criminalização [dos envolvidos em fraude] passou a acontecer, a gente teve a regulação das apostas esportivas. A gente evoluiu”, disse.

Ele se referiu ao Assistente de Árbitro de Vídeo (VAR) como uma ótima medida, que ajuda a coibir e a intimidar as fraudes de arbitragem. “Tudo o que vier nesse sentido é positivo”, comentou.

Para o produtor, porém, o problema é mais complexo do que alguns podem acreditar.

“Acho que isso [a fraude] nunca vai acabar. O crime sempre está à frente da lei. O crime foi feito para burlar a ordem. Enquanto houver uma ordem, haverá crime. Essas fraudes acompanham a inovação. O jogo nunca está ganho. A gente fica sempre enxugando gelo. E não pode parar de enxugar, senão eles [os criminosos] tomam conta”, avaliou.

Segundo Bruno Maia, a grande dificuldade de se combater as fraudes consiste justamente no fato de que os criminosos acompanham de perto as transformações tecnológicas e sociais.

“Tudo na vida evolui. Artes, poesia, cinema, indústria automobilística, a era espacial, a agricultura e o crime. O crime está ligado à essência humana. O problema não é do futebol, é da sociedade como um todo, da cultura que a gente tem. O futebol sempre reflete tudo que a gente tem na sociedade. Então, não tem diferença: tem corrupção em todos os lugares, tem também no futebol”, afirmou.