O Villa Española, clube que disputa a Segunda B Nacional do Uruguai, equivalente à terceira divisão, lançou um uniforme de goleiro com uma homenagem ao Doutor Sócrates, craque brasileiro que jogou as Copas do Mundo de 1982 e 1986, e liderou a Democracia Corintiana no início dos anos 1980.
A imagem do ídolo do Corinthians aparece na parte superior traseira da camisa utilizada na última temporada com a frase “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”. Na gola traseira, também há a inscrição “Doutor Sócrates” para lembrar o jogador, morto em 4 de dezembro de 2011, em São Paulo (SP).
A frase pedindo democracia foi divulgada pelos jogadores do Corinthians em uma faixa erguida durante o período da Democracia Corintiana, liderado por Sócrates, Casagrande e Wladimir nos anos 1980 e que rendeu um bicampeonato paulista ao clube (1982 e 1983).
À época, o Brasil passava pela transição da ditadura militar para a democracia. Sócrates chegou a se engajar no movimento das Diretas Já, que pedia eleições diretas à presidência do Brasil em 1985, emenda constitucional que não foi aprovada pelo Congresso Nacional em 1984. No ano seguinte, Tancredo Neves seria o primeiro civil eleito presidente do Brasil desde o Golpe de Estado que derrubou João Goulart, em 1964.
O Brasil só voltou a eleger um presidente em eleições diretas em 1989, quando Fernando Collor de Mello derrotou Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno.
Engajamento
Neste ano, o Villa Española ocupa a sétima posição na terceira divisão do Uruguai. Já foram jogadas quatro rodadas, e o time, que é sediado na capital Montevidéu, conta com uma vitória, dois empates e uma derrota.
Fundado como clube de boxe em 1940, o Villa Española tem esse nome por ter sido criado por imigrantes espanhóis. Por conta disso, as cores do time são vermelho e amarelo, as mesmas da bandeira da Espanha. O clube também é conhecido por competir no atletismo.
O time, que disputou a primeira divisão uruguaia pela última vez em 2021, tem forte ligação com causas políticas e sociais. Desde 2018, o clube apoia a Marcha do Silêncio, que lembra os desaparecidos na ditadura do Uruguai (1973-1985). Em 2020, passou a apoiar o Mês da Diversidade, com o uso de um uniforme que remete ao arco-íris, símbolo da causa LGBTQIAP+.
Em 2021, o time causou polêmica ao usar uma camisa com imagens de desaparecidos da ditadura e a mensagem “Verdade e Justiça”. No Estádio Obdulio Varella, onde o time manda seus jogos, há uma enorme placa com os dizeres “Nunca Mais”, lema usado também na Argentina e no Brasil para rechaçar o período ditatorial.
Houve uma notificação da arbitragem por causa da mensagem, considerada política. No entanto, a Associação Uruguaia de Futebol (AUF) decidiu não punir o clube, considerando a frase apenas como favorável aos direitos humanos.