Mais de 1.800 torcedores do Liverpool que alegam ter se machucado ou ficado com trauma psicológico na final da Champions League da última temporada devem processar a Uefa. A ação do grupo refere-se ao jogo contra o Real Madrid, no Stade de France, em Paris, em 28 de maio, quando houve atraso de 35 minutos para o início do jogo por “problemas de segurança”.
Um inquérito do Senado francês contradiz as afirmações iniciais da entidade que comanda o futebol europeu de que os torcedores do Liverpool foram os principais responsáveis pelo problema por tentarem entrar sem ingressos.
O inquérito citou uma “série de erros de funcionamento”, incluindo a falta de preparação das autoridades e da Uefa, bem como um esquema de segurança inadequado. O Bingham’s, escritório de advocacia de Liverpool, afirmou que seus clientes ficaram aterrorizados.
“Como torcedor de longa data do Liverpool, fiquei absolutamente horrorizado quando ouvi como os eventos se desenrolaram no que deveria ter sido o ponto alto da temporada de futebol”
Gerard Long, advogado do Bingham’s, em entrevista à BBC
“Não apenas outros torcedores, mas meus amigos, familiares e clientes que estavam presentes naquele dia falaram das cenas aterrorizantes que cercaram o Stade de France antes e até depois do jogo”, completou.
Ações conjuntas
O escritório de Liverpool se associou à Pogust Goodhead, empresa global de advocacia, em um processo para 1.450 torcedores que alegam negligência. Com o Leigh Day, outro escritório de advocacia, o Bingham’s entrou com uma ação em nome de mais 400 torcedores.
Os advogados disseram que planejam processar a Uefa por quebra de contrato na venda de ingressos e negligência sobre um dever de cuidado que tinham com os torcedores, que foram prejudicados física e mentalmente.
“Nosso caso é que a Uefa, como organizadora, tinha o dever de cuidar das pessoas, que pagaram muito caro pelos ingressos. E esse direito foi violado”
Gerard Long, advogado do Bingham’s
Antes da partida, milhares de torcedores do Liverpool foram direcionados para uma entrada em que nem todas as catracas do estádio estavam operando, causando aglomeração. A polícia francesa e os agentes de segurança passaram, então, a usar spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo na tentativa de dispersá-los.
“Estamos representando torcedores que sofreram lesões físicas por esmagamento nas catracas e muitas pessoas que sofreram psicologicamente. Alguns temeram por suas vidas. Os torcedores relataram ansiedade, estresse pós-traumático e pesadelos. Nunca mais querem ir a um jogo de futebol europeu ou mesmo retornar à França”, afirmou Long.
Fora do campo, após a partida, gangues de homens locais armados com facas, facões e bastões percorreram as ruas e áreas públicas, assaltando os torcedores que não haviam conseguido entrar.
Há relatos de que a polícia francesa, em muitos casos, só ficou a distância e assistiu aos roubos. O Liverpool informou que enviou depoimentos de 8.500 torcedores para uma “análise independente” da Uefa sobre o que aconteceu.
Outro lado
A Uefa não fará comentários até que seu painel de revisão produza um relatório sobre o incidente. O documento deve ser finalizado no final de novembro, em meio à Copa do Mundo do Catar 2022.
A entidade havia dito anteriormente que pedia sinceras desculpas “a todos os torcedores que tiveram que experimentar ou testemunhar situações assustadoras e angustiantes naquela noite. Nenhum torcedor de futebol deve ser colocado nessa situação, e isso não deve acontecer novamente”.