A Uefa alertou contra o aumento crescente de investidoras que adquirem vários clubes de futebol. Para a entidade que comanda o futebol europeu, isso pode colocar em risco a “integridade” de suas competições.
A federação fez o alerta em seu relatório anual Benchmarking de Licenciamento de Clubes, publicado no início do mês. A propriedade de vários clubes, em que investidores possuem participações em mais de um time de futebol, tornou-se um modelo popular de negócios. A Uefa identificou, até o final de 2022, mais de 180 times no mundo que fazem parte de uma estrutura de vários clubes. Esse número é quase o dobro do registrado quatro anos atrás.
A entidade observou que a tendência foi “alimentada predominantemente por investidores dos Estados Unidos”, com um terço dos conglomerados de vários clubes tendo sido iniciados por empresas norte-americanas. A Uefa também apontou que a última década viu quintuplicar o número de clubes envolvidos em um agrupamento de vários times.
“O aumento do investimento de vários clubes tem o potencial de representar uma ameaça material à integridade das competições europeias de clubes, com um risco crescente de ver dois clubes com o mesmo proprietário ou investidor se enfrentando em campo”, afirmou o relatório.
Mercado da bola
Ao examinar o impacto da tendência no mercado da bola, a Uefa alertou que a maioria dos jogadores se transfere cada vez mais dentro de grupos de investimento de vários clubes por meio de empréstimos ou transferências gratuitas. Como resultado, alguns investidores do futebol exercem controle sobre clubes que possuem mais de 6.500 jogadores em todo o mundo que estão registrados em vários clubes.
“O crescimento do investimento em vários clubes tem o potencial de distorcer a atividade de transferência, com uma porcentagem crescente de negócios sendo executados dentro de grupos de investimento de vários clubes a preços adequados aos investidores, e não a valores de mercado, em detrimento aos clubes formadores [que recebem menor compensação por meio do mecanismo de solidariedade]”, disse a Uefa.
Prejuízo
Em outra parte do relatório, o presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, manifestou-se contra os gastos “imprudentes” com taxas de transferência de jogadores e salários.
A organização também descobriu que 12 clubes foram responsáveis por dois terços das perdas totais de € 1,9 bilhão (R$ 10,5 bilhões, na cotação atual) sofridas por 144 times que relataram resultados financeiros no início de 2022.
Dos 20 clubes europeus com maior receita que forneceram seus números financeiros no ano passado, 16 aumentaram suas folhas de pagamento em comparação com o período anterior ou durante a pandemia. Entre eles está o PSG, que gastou € 729 milhões (R$ 4,025 bilhões) com a folha salarial do time em 2022, o que representa uma relação salário/receita de 109%.
A Uefa também descobriu que os salários dos jogadores aumentaram em média 16% no continente em comparação com os níveis de antes da pandemia, enquanto os custos operacionais cresceram 11% por causa de pressões inflacionárias no resto do mundo.
Em média, os clubes que divulgaram balanço no início de 2022 gastaram 83% de suas receitas com salários de jogadores e demais funcionários, além de custos líquidos com transferências de atletas.
Sustentabilidade
Tendo já introduzido novos regulamentos de sustentabilidade financeira para garantir que os clubes gastem dentro de suas possibilidades, a Uefa entende que deve endurecer ainda mais as regras na próxima janela de transferências, para que as equipes só possam dividir o custo de uma taxa de transferência em um máximo de cinco anos de contrato de um jogador.
“Embora esta não seja uma tendência negativa por si só, é claro que muitos estão comprometendo sua sustentabilidade econômica em sua busca imprudente pelo sucesso”, declarou Ceferin.
Por causa disso, a entidade que comanda o futebol europeu pede que suas federações filiadas apertem o cerco contra clubes que violem as regras de sustentabilidade financeira.
“A Uefa deu o primeiro passo no verão passado ao introduzir a primeira regra de relação de custo do elenco nos novos regulamentos de sustentabilidade financeira, restringindo gastos com salários, transferências e taxas de agentes”, afirmou o dirigente.
A nova regra prevê que os clubes possam gastar até 70% de sua receita com salários a partir da temporada 2025/2026. Para Ceferin, isso “limita a inflação do mercado de transferências e salários”. Ele ainda completou que “a chave agora é permanecer justo, rigoroso e consistente”.