Capital paulista terá primeira competição de MMA para atletas trans no próximo sábado (25)

Cris Macfer, idealizador do Transfighter, em ação em luta de MMA - Divulgação

A cidade de São Paulo será sede, no próximo sábado (25), da primeira competição de Artes Marciais Mistas (MMA) exclusiva para atletas transgêneros. O Transfighter será realizado no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP), no bairro do Ibirapuera (zona sul de São Paulo), com entrada gratuita.

O evento terá um card com cinco lutas, com atletas divididos em masculino e feminino, e de acordo com o tempo de terapia hormonal cruzada: Pré-T (quem não faz terapia hormonal), T1 (até um ano de terapia hormonal), T2 (entre um e três anos de terapia hormonal), T3 (de três a cinco anos de terapia hormonal) e T4 (acima de cinco anos de terapia hormonal).

“Os ganhos de força da terapia hormonal masculinizadora acontecem em até cinco anos. Esse limite é atingido em cinco anos. Ainda faltam muitos estudos e é preciso levar em conta que isso vai variar muito de indivíduo para indivíduo”, ponderou Cris Macfer, organizador e idealizador do Transfighter, em entrevista à Máquina do Esporte.

A ideia é que a competição também tenha um caráter científico, para estudar as diferentes divisões de classe na modalidade. Cris é graduado em Educação Física na Universidade Federal de Viçosa (MG) e estuda a participação de atletas trans no esporte.

“Pode ser que a pesquisa acadêmica que eu estou fazendo, que vai iniciar agora e vai ter duração de quatro anos, me traga respostas, para que possa fazer uma nova alteração nessas categorias”, contou.

“O Transfighter é um evento que vem com uma base científica muito forte e um acompanhamento desses dados, porque eles vão mudar. A ciência é mutável”, acrescentou.

Logomarca do Transfighter, evento de MMA para atletas trans – Divulgação

Pioneirismo

O evento, além do cunho esportivo, também serve para desbravar as modalidades exclusivas para atletas trans. Há uma grande discussão sobre a participação de competidores transgênero no esporte. De maneira geral, o Comitê Olímpico Internacional (COI) estabeleceu uma diretiva de que a federação internacional de cada modalidade delibere sobre o assunto.

No Brasil, um caso famoso é o da ponteira Tiffany, primeira atleta transexual a jogar a Superliga Feminina de Vôlei. Nas Olimpíadas de Tóquio 2020, houve a participação da primeira atleta transgênero no levantamento de peso, a neozelandesa Laurel Hubbard, na categoria acima de 87kg. Ela não levou medalha, mas se tornou uma pioneira.

Por outro lado, no MMA, a ideia de uma competição como o Transfighter é estabelecer parâmetros para que atletas trans possam se enfrentar, respeitando as especificidades da modalidade. A iniciativa também é uma maneira de promover a inserção desse grupo de atletas no esporte, competindo de forma mais igualitária.

“Os lutadores não têm o básico: não têm acesso à saúde. A terapia hormonal que chega para eles nem sempre é gratuita. Eu falo porque tive uma conversa por chamada de vídeo com um desses atletas, que não tem suporte familiar. Para chegar no alto rendimento, é uma escada enorme”

Cris Macfer, organizador e idealizador do Transfighter

“Queremos primeiramente abrir as portas, permitir que eles compitam em um ambiente seguro”, completou.

Cris, que nasceu no gênero feminino e se descobriu como trans na idade adulta, sabe do preconceito que atletas trans sofrem em diversas modalidades, em particular nas artes marciais.

“O MMA e as modalidades de combate como um todo têm um entorno muito preconceituoso”, afirmou Cris, que é especialista em hapkidô, jiu-jítsu, muay thai e taekwondo tradicional.

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