A sequência do vôlei brasileiro como uma potência mundial passa pela capacidade do país em revelar novos talentos. No entanto, a estrutura de formação de atletas da modalidade no Brasil opera muito mais baseada no propósito individual de alguns clubes ou projetos independentes do que em um sistema coletivo e financeiramente sustentável.
A ausência de um modelo que incentive e remunere os clubes formadores coloca em risco a renovação de gerações vitoriosas do passado e sobrecarrega projetos que não contam com o mesmo poder de investimento dos times mais ricos.
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A questão, levantada por Anderson Marsili, presidente do Vôlei Guarulhos, durante sua participação no Maquinistas, o podcast da Máquina do Esporte, mostra que a formação de atletas não é tratada como um negócio, mas como um custo ou ação social. Diferentemente de outros esportes, como o futebol, não há uma exigência formal para que os times da Superliga mantenham categorias de base, o que faz o investimento ser uma decisão estratégica de cada gestor.
Essa escolha gera, muitas vezes, um sacrifício financeiro, já que os clubes com orçamentos menores precisam decidir entre reforçar a equipe principal ou destinar uma parte significativa dos seus recursos para um projeto de longo prazo e que ainda não oferece garantias de retorno. Para muitas equipes, a conta não fecha, o que acaba restringindo a revelação de talentos em poucos centros.
“Base, hoje, para mim, é social. Você não tem retorno algum. Eu já sou o sétimo orçamento [da Superliga]. Então, eu invisto em base por propósito, porque eu poderia tentar ser o sexto e não investir em base”, comentou Anderson Marsili.
Sustentado pelos mais ricos
Atualmente, a formação de atletas no vôlei brasileiro é movida, na maioria das vezes, por um grupo restrito de clubes com maior poder financeiro e estrutura consolidada, como Sesi Bauru, Minas Tênis Clube, Praia Clube e Sada Cruzeiro. Essas equipes conseguem manter projetos de base robustos que não apenas alimentam seus próprios elencos, mas, principalmente, fornecem jogadores para todo o mercado da modalidade.
Essa dinâmica, porém, cria uma dependência, já que o sistema como um todo fica vulnerável a qualquer mudança de estratégia ou de gestão desses clubes-chave. De acordo com Marsili, dar reconhecimento a esses clubes é fundamental, já que eles se tornaram os pilares de um modelo que ainda busca se organizar de forma mais ampla.
“A gente tem que agradecer muito a times como Sesi, Minas [Tênis Clube], Praia [Clube], o próprio Cruzeiro, que investem na base, mesmo não usando [todos os atletas] no time [profissional] deles”, disse o presidente do Vôlei Guarulhos.
Possível solução
Para que o cenário se torne mais equilibrado e sustentável, a solução, segundo Marsili, passaria pela criação de um modelo de negócios para a formação, inspirado em mecanismos que já se provaram eficientes em outras modalidades. A ideia seria transformar a base de um centro de custo em uma potencial fonte de receita, incentivando mais clubes a investirem na revelação de atletas.
Isso seria possível a partir da implementação de um sistema de compensação por formação, em que o clube que revelou o atleta recebe uma porcentagem em futuras transferências ou contratos, de forma semelhante ao que já ocorre no futebol.
“Para mim, isso só tem um jeito: Centro de Formação de Atletas. Aí você consegue ter investidor, e aí o clube tem uma porcentagem em cima dele, igual o Neymar paga lá para o Santos porque ele revelou o cara. E aí você vai ter investidores criando clubes com CTs [Centros de Treinamento] mais arrojados, porque ele tem como ter um retorno financeiro em cima daquele atleta”, explicou o executivo.
O podcast Maquinistas, apresentado por Erich Beting e Gheorge Rodriguez, com a participação de Anderson Marsili, presidente do Vôlei Guarulhos, está disponível no canal da Máquina do Esporte no YouTube: