A União Europeia (UE) aprovou, em março, o fim da fabricação e das vendas de veículos que emitem gás carbônico até o final de 2035. Considerada histórica pelas autoridades globais de meio ambiente, a lei prevê que os veículos fabricados tenham emissões zero de CO2 somente a partir desse ano, porém 55% da meta deve ser cumprida até 2030.
A criação da lei forçou as principais categorias do automobilismo a tomar uma série de providências, uma vez que todas anunciaram medidas que contribuem para a redução do efeito estufa.
Apesar de escassas, as ações sustentáveis estão começando a ganhar tração no universo esportivo. O anúncio da UE deve impactar nos esportes a motor que contribuem para altos níveis de CO2 na atmosfera. A exceção é a Fórmula E, exclusiva para carros elétricos.
De acordo com um relatório publicado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), o esporte a motor é responsável por cerca de 0,3% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) anualmente, com aproximadamente 256 mil toneladas emitidas na atmosfera em 2019. Ainda segundo o relatório, a Fórmula 1 foi responsável por cerca de 0,7% dessas emissões, sendo que 45% vêm da logística de transporte internacional de equipamentos e equipes por mar, ar e terra.
Medidas anunciadas
Com este cenário, as principais modalidades de corrida começaram a se mobilizar para irem ao encontro do que propõe a nova lei.
A Fórmula 1, por exemplo, se propôs a zerar as emissões de carbono até 2030, ano que coincide com a primeira meta da UE. Na temporada passada, a modalidade introduziu uma nova geração de motores a combustível E10, uma mistura de 10% de etanol e 90% de gasolina, que reduz as emissões de carbono dos carros.
O novo combustível, entretanto, gerou atritos com algumas montadoras, como a Honda, que reclamou publicamente da perda de potência após a transição para o modelo de combustível sustentável.
A ideia é que, em 2026, a principal categoria do automobilismo mundial passe a utilizar combustíveis 100% renováveis.
Já a IndyCar (antiga Fórmula Indy) introduziu, em parceria com a Shell, um combustível 100% sustentável para a temporada 2023. Agora, o combustível utilizado pela categoria é uma mistura de etanol de segunda geração derivado de resíduos de cana-de-açúcar e “outros biocombustíveis”.
A Fórmula 2 e a Fórmula 3, categorias de base para a F1, também aderiram a novos combustíveis para esta temporada. A ideia é que, no campeonato do próximo ano, o combustível utilizado seja 55% sustentável em sua composição, com a porcentagem aumentando gradativamente até atingir 100% em 2027, um ano após a introdução da nova geração de motores na F1.
O WRC, Campeonato Mundial de Rali, também optou por combustíveis 100% renováveis nos carros desde a temporada passada.
A preocupação também é compartilhada pela MotoGP, que revelou que todas as suas categorias serão 100% livres de combustíveis fósseis até 2027. A principal categoria do motociclismo mundial pretende atingir 40% da meta já em 2024. Os novos combustíveis, de acordo com o site Biofuels International, serão criados em laboratório, usando componentes provenientes de um esquema de captura de carbono derivado de resíduos ou biomassa não alimentar.
O anúncio mais recente foi da Nascar, campeonato de Stock Car dos Estados Unidos, que criou a iniciativa “Nascar Impact” e se comprometeu a zerar emissões líquidas de carbono até 2035. Novamente, a data limite evidencia que as modalidades não pretendem entrar em rota de colisão com a lei criada pela União Europeia.
Para os próximos cinco anos, a Nascar planeja implementar um sistema de energia renovável em 100% das instalações e pistas de corrida que pertencem à organização.
Vale lembrar que, em 2021, a Stock Car brasileira já havia se comprometido a zerar emissões de carbono, firmando um acordo com a Orma Carbon para a compensação de suas emissões de carbono em todas as etapas.
Modalidade do futuro?
Sem enfrentar problemas por causa da emissão de carbono por usar exclusivamente carros elétricos, a Fórmula E estreou neste ano no Brasil. O chefe da categoria, Alberto Longo, afirmou, em entrevista à Máquina do Esporte, que a etapa brasileira movimentaria mais de R$ 500 milhões na cidade de São Paulo.
O Brasil conta com dois pilotos no campeonato, o paulista Lucas Di Grassi, da equipe Mahindra, e o mineiro Sérgio Sette Câmara, da NIO. A categoria é a única que utiliza motores 100% elétricos em todos os carros, que podem chegar a até 300 km/h.
Ano-chave
O ano de 2030 é para quando praticamente todas as modalidades se propõem a efetivar ações sustentáveis. Também é o ano que diversas empresas adotam como limite para a implementação de novas tecnologias que favorecem o meio ambiente.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), até 2030, 30% dos carros novos vendidos em todo o mundo serão elétricos. O bilionário Elon Musk vai um pouco além, e afirma que metade dos carros serão eletrificados até este mesmo ano. Já a Chevrolet diz que pretende iniciar a fabricação de carros elétricos no Brasil até 2030.
O setor dá mostras de que está comprometido com a causa. O tempo dirá se as ações serão efetivas. Resta ao público e ao mercado observarem se a indústria automobilística executará mesmo as medidas anunciadas e como isso impactará no nível dos campeonatos.