O melhor exemplo da superioridade de Anderson Silva é a vitória mais recente, contra o também brasileiro Demian Maia, na defesa pelo cinturão de médios do Ultimate Fighting Championship (UFC). Na segunda etapa do combate, o lutador abriu a defesa, provocou o adversário, bateu no próprio rosto para que fosse atacado. Venceu e, por motivos óbvios, causou polêmica.
Esse comportamento, somado aos nocautes e vitórias, faz com que o atleta, apelidado de “Aranha”, tenha alta visibilidade em diversas mídias, sobretudo entre o público jovem. Curiosamente, Silva, faixa preta em tae kwon do, judô e jiu-jistu, não é patrocinado por nenhuma companhia brasileira e essa peculiaridade já foi motivo de ridicularização de futuro adversário – Chael Sonnen, norteamericano.
Uma das justificativas para tal situação é exatamente a atitude do atleta. “O Anderson tem que tomar cuidado porque está em um esporte que passa valores e que tem imagem de violência”, explica Valdinei Fujarra, diretor da agência Fujarra Marketing Esportivo. “Qualquer tipo de comportamento que venha a ressaltar esse tipo de visão torna as coisas mais complicadas”.
Para o especialista em marketing esportivo, o lutador precisaria trabalhar melhor sua imagem para se tornar palatável aos patrocinadores em potencial. Mas a opinião não é un”nime. “Talvez ele não tenha apoio por não ter sido bem trabalhado ou não ter assessoria que o coloque na mídia”, avalia Geraldo Rodrigues, presidente da Reunion Sports, empresa especializada em gestão desportiva.
Segundo o consultor, cada atleta possui características próprias que podem ser exploradas por companhias que possuam estratégia similar. “O lutador é uma somatória de coisas, e não só a performance no ringue”, justifica Rodrigues. “Também há o carisma, o que já fez na vida, a vida social, enfim, tudo depende de como a imagem do lutador é trabalhada, como é vendida”.
Outra hipótese que deve ser considerada é o cenário de patrocínios esportivos no Brasil. Entre especialistas no assunto, é consenso a fragilidade de modalidades, com exceção ao futebol, em território brasileiro. “O Anderson é um fenômeno, seguramente o melhor lutador de MMA (artes marciais combinadas, em tradução livre), mas vivemos em um país com monocultura”, aponta Fujarra.
Para Rafael Plastina, diretor de marketing da Informídia Pesquisas Esportivas e especialista em retorno de mídia, Anderson Silva é “patrocinável”, mas não possui aportes nacionais devido à política e à maturidade das empresas brasileiras. “As companhais precisam entender como o esporte agrega do ponto de vista de conteúdo, o que há na mente do consumidor, quem são os atletas certos”, define. “Atualmente, vivemos uma realidade voltada somente para a compra de mídia”.
Por fim, ainda se deve ressaltar a indisposição de companhias em associar marcas a artes marciais, popularmente relacionadas à violência. “Já ouvi muitas empresas dizerem que, por diretriz, não se associam a nenhum tipo de luta”, revela Plastina. Essa filosofia, argumenta o especialista, existe porque nenhum patrocinador quer problemas. “Todos querem navegar em águas calmas”, finaliza.