Alternar o poder de uma entidade não é garantia de processos mais limpos e eficientes, mas a briga democrática pelo poder certamente ajuda o desenvolvimento de práticas mais transparentes. E essa, infelizmente, ainda é uma realidade bastante distante do esporte brasileiro.
Os números impressionam. Nuzman, preso, dirigiu o Comitê Olímpico do Brasil por 22 anos. Ricardo Teixeira, que renunciou ao cargo da CBF, ficou na presidência por 23 anos. O caso mais extremo é de Coaracy Nunes, que ficou no comando da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos por incríveis 29 anos. E só deixou o poder depois de ser preso.
Em comum, os nomes têm o pulso forte para comandar. Senso democrático passa longe. E, com o poder concentrado, fica cada vez mais difícil de ter acesso ao que é feito. São formadas então verdadeiras máfias que, nesse caso, comandam o esporte nacional.
A prática é invariavelmente nociva. Em alguns clubes de futebol, ela foi abolida, graças a escândalos que envolveram nomes que se perpetuaram por décadas no poder. Mas, de forma geral, a realidade ainda está distante.
Paulo Wanderley, o novo Nuzman, já deixou claro que essa não é uma preocupação. Foram 16 anos de CBJ e, por ele, o período pode ser repetido no COB. No futebol, a “Folha de S.Paulo” publicou na terça-feira que Marco Polo Del Nero arcou com viagem e ingressos a diversos dirigentes votantes. Ele não pode sair do país, e também não quer sair da CBF.
Se o COB tem algum interesse em mudar o status quo da entidade, essa deveria ser uma das prioridades. Um ciclo olímpico já está bom demais para as velhas práticas de gestão.