Neste domingo (9), a seleção brasileira fará a estreia na Copa do Mundo de Futebol Feminino, com transmissão ao vivo pela Globo. Assistir à partida não será apenas um bom programa de entretenimento, com as melhores jogadoras do mundo em campo. Será um ato de resistência.
O Brasil é um país extremamente machista, e o futebol feminino é um bom exemplo disso: a modalidade era proibida até 1979. Em 1983, houve a primeira regulamentação do esporte, mas com limitações estapafúrdias, como a proibição de cobranças de ingressos. Ou seja, enquanto o país se orgulhava de Zico, Sócrates e Falcão, as mulheres eram impedidas oficialmente de desenvolver um mercado próprio.
Essa cultura de marginalização do futebol feminino perdurou por décadas. Difícil esquecer que, no início do século (XXI!), o então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, usou “beleza” como critério para escolher jogadoras do Campeonato Paulista.
E, se ainda existia qualquer dúvida do quanto o machismo está inserido na sociedade brasileira e no futebol, o caso recente de Neymar deixou bastante claro. Desde que surgiu a acusação de estupro, não faltaram comentários impublicáveis sobre a suposta vítima. Ficou explícito o quanto muita gente repudia a liberdade sexual da mulher e não tem o menor entendimento do que se configura uma violência sexual. Mesmo com histórico de conduta repreensível, o jogador foi automaticamente absolvido pelo tribunal das redes sociais. A mulher, por outro lado, recebeu as mais diversas ofensas. Até mesmo na página da Máquina do Esporte no Facebook houve comentário para chamá-la de “piranha”.
Evidentemente, assistir ao futebol feminino não é apenas um protesto. O esporte tem se tornado cada vez mais sustentável e, neste ano, ganhou ainda mais mídia e patrocínio. A Copa do Mundo de 2019 será a maior da história da categoria, o que comprova o interesse crescente. Não há ato de resistência que segure economicamente um entretenimento, e esse não é o caso. O Mundial fará sucesso porque promete grandes partidas, histórias e emoções, assim como acontece com o masculino.
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Ainda assim, é impossível não celebrar o que o torneio deste ano representa. É um sopro contra o histórico de intolerância sofrida pelas mulheres, e isso não pode ser ignorado. Celebrar cada drible, jogada e gol será também um modo de virar as costas ao machismo que insiste em respirar no país.