Cobrir Olimpíada é um dos trabalhos mais frustrantes para um repórter. Pode parecer estranha a frase. Explico-me melhor.
Os Jogos Olímpicos são um shopping center de acontecimentos. As pautas caem do céu. Nem precisa de muito esforço para apurá-las. Boa parte das maiores estrelas do esporte mundial está ali, disponível na saída de um treino, zanzando pelas lojas da Vila Olímpica, no sufoco da zona mista, em uma coletiva de imprensa pós-jogo.
Mas por que então o desencantamento?
É pelo mesmo motivo do encanto. Para quem realmente aprecia o esporte, é muito difícil estar em todos os lugares em que gostaria. Muitas provas são realizadas ao mesmo tempo. Os jornalistas são atropelados pelos acontecimentos.
Uma judoca, que dá chá de cadeira na imprensa após perder uma luta, inviabiliza a ida para a ginástica para se deliciar com os movimentos precisos de Kohei Uchimura ou Simone Biles. Um dia complicado para chegar ao Engenhão para cobrir o atletismo dá fim ao sonho de assistir à final do tênis. Tive quatro Olimpíadas para acompanhar Michael Phelps nadar. Consegui finalmente vê-lo agora. Mas foi só na semifinal dos 200 m medley.
Ao encontrar os colegas durante a cobertura, falamos quase como se tivéssemos ganhado uma medalha: “Eu vi a redenção do Diego Hypolito”; “Estava no estádio quando a etíope correu descalça”; “Testemunhei o Phelps ganhar o 23º ouro”; “Assisti ao Djokovic chorar”. Pois é, eu não estive em nenhum desses acontecimentos.
Cobrir a Olimpíada pode ser frustrante. Mas posso encher a boca para dizer que vi Usain Bolt ganhar três vezes os 100 m em Olimpíadas. Essa é minha medalha de ouro.