O técnico do Flamengo, o português Jorge Jesus, é a estrela da vez no futebol brasileiro. Com justiça. O clube carioca está na decisão da Libertadores e deverá conquistar o Brasileirão deste ano. Além disso, o time simbolicamente goleou equipes recentemente vencedoras, lideradas pelos treinadores brasileiros Felipão, Renato Gaúcho e Fábio Carille. Somado à presença do argentino Jorge Sampaoli, o futebol nacional passou a celebrar a figura do estrangeiro.
Agora, os técnicos estrangeiros passam a ficar em evidência e, nos próximos anos, a tendência natural é que haja um intercâmbio maior. E, assim, não será apenas o campo que irá crescer; o movimento abre novas portas também para a gestão.
Historicamente, o futebol brasileiro tem aversão ao estrangeiro. Em campo, a seleção nunca teve um treinador de fora em uma partida oficial. E há um discurso comum, de que esses profissionais precisam de “tempo de adaptação”. De maneira geral, o país é arrogante quando o assunto é o esporte mais popular. Pentacampeões, quem tem que aprender são os outros.
Isso se reflete diretamente no modo como o esporte é gerido fora das quatro linhas. Exemplos exportados para a gestão eram inexistentes até o início deste século, quando o futebol nacional se fechou para a própria realidade. Hoje, algumas medidas são adotadas, mas nunca de forma consistente. É o hino para o Brasileirão que não tem data, é o VAR torto para uma arbitragem pouco profissionalizada, é um ingresso caro para um produto ruim.
Não há a necessidade de trazer profissionais de fora, mas sim de valorizar aqueles que conhecem e querem aplicar o que realmente acontece de melhor no mundo desenvolvido do esporte. Hoje, tudo fica “abrasileirado” no futebol, seja no apelo antigo de venda de patrocínio ou no ineficiente modelo de negócio aplicado às arenas.
Adaptações são sempre necessárias, mas o mercado esportivo brasileiro precisa parar de ignorar o que acontece de melhor nos mercados mais ricos e passar a absorver novos métodos. Precisa entender o porquê de a Alemanha ter estádios mais cheios, os Estados Unidos terem mais marcas envolvidas, a Inglaterra ter arenas pacificadas.
Jorge Jesus parece ter deixado claro algo que muitos já desconfiavam: há um déficit tático no Brasil, e o modelo de fora pode se encaixar perfeitamente. Agora, é preciso deixar o orgulho de lado para compreender que não somos mais os melhores do futebol, mas há muitos caminhos para voltarmos a sermos. Dentro e fora de campo.