O caso do Coritiba, com uma marca própria para fornecedora de material esportivo, não é inédito no futebol, mas talvez seja a primeira iniciativa mais bem estruturada de um time de Série A (ainda que esteja momentaneamente na B) dentro do eixo centro-sul do Brasil. Por isso mesmo, a experiência paranaense servirá de termômetro para o mercado do futebol.
Caso a equipe seja bem-sucedida, a tendência é que outras equipes sigam o mesmo caminho. Vale a ressalta que não há precedente de algo do tipo no futebol de ponta, mas talvez seja uma necessidade no mercado brasileiro.
O problema é que fornecimento de material esportivo é algo totalmente desequilibrado. Muito se fala na televisão, pela alta diferença de valores, mas proporcionalmente são os patrocínios de camisa que mais carregam distâncias no futebol do país.
Segundo o Coritiba, os ganhos com a Adidas eram de R$ 100 mil por temporada. Isso significa que o Flamengo ganha mais de 30 vezes que a equipe do Paraná recebia da empresa alemã pela mesma propriedade. Nem patrocínio, nem televisão e nem bilheteria têm diferenças tão grandes entre as equipes brasileiras.
O modo de pensar a parceria é muito diferente. Em uma equipe média ou pequena, as fornecedoras de material esportivo fazem conta de padaria. É meramente um produto de licenciamento. Nas grandes equipes, o acordo vale como um patrocínio mais convencional. Adidas, Nike e Puma não vão, necessariamente, recuperar o investimento financeiro feito em Flamengo, Corinthians e Palmeiras de forma direta. Mas estar com os três é uma questão de posicionamento das maiores marcas.
Ter uma marca própria passa a ser o caminho para, pelo menos, ter mais direitos a royalties de venda. Só que isso não é simples. Fabricar camisetas está longe do know- -how de qualquer clube de futebol. É necessária uma estrutura muito profissional, com parceiros muito específicos, para a experiência ser minimamente positiva. E o pior: distribuição de produtos no varejo é algo que exige companhias fortes por trás. Caso contrário, a expectativa de lucrar com as vendas vai por água abaixo com as sucessivas rupturas nos principais pontos de venda do mercado nacional.
São esses empecilhos que fazem da experiência do Coritiba algo arriscado e sem um grande espelho, seja no Brasil ou no mercado europeu. Mas caso o time finalmente consiga fazer dar certo, esse deverá ser um caminho a ser seguido por outros.