Com a saída de estatais do esporte, o segmento deverá viver uma crise nos próximos anos. Atletas e confederações que estavam acostumados a receberem verba sem a necessidade de apresentar maiores retornos terão que repensar o modo de se aproximar do mercado. Essa adaptação não será fácil, exigirá profissionalismo e criatividade. Reclamar apenas não será suficiente.
Na terça-feira (19), o ginasta Diego Hypolito resolveu usar as redes sociais para desabafar sobre a falta de aporte. “Infelizmente, vivemos em um país que não valoriza uma vida de dedicação. Patrocínio? Pior que a falta de incentivo financeiro é a falta de respeito. Ser atleta no Brasil é ser mais que herói”, escreveu o atleta.
Não é novidade na carreira de Hypolito a reclamação pela falta de patrocínio. E, com 32 anos e um histórico na estratégia, já deveria ter aprendido que esse tipo de discurso não comove o mercado. Patrocínio não é doação e ninguém tem obrigação de pagar alguém pelo número de medalhas conquistadas em Jogos Olímpicos.
Se Hypolito quer patrocínio, já deveria ter aprendido a oferecer mais do que seu agradecimento às empresas interessadas. Se não tem nada de interessante para oferecer, talvez devesse repensar.
Esse discurso não atrapalha somente a busca dele por um patrocínio, mas de todo o mercado. Ele reforça a ideia de que patrocínio é uma ajuda ao esporte, algo ainda tão presente no Brasil. Esporte tem que ser usado como plataforma de negócios. Caso contrário, será sempre o primeiro investimento a ser cortado em tempos de crise econômica. Nem poderia ser diferente.
As palavras de Hypolito são pessoalmente irritantes. O jornalismo tem uma enorme importância em uma sociedade democrática, mas sofre com o desinteresse do mercado. Empresas do ramo têm lutado para se adaptar à nova realidade, com a abertura de outros braços de negócios. Revistas e jornais fecham todos os dias, mas é mais raro ver jornalista discursando sobre a “falta de incentivo” no país.
Aliás, até no tempo de discurso Hypolito falhou. O post foi colocado no mesmo dia em que a Ford anunciou o fechamento da fábrica em São Bernardo, o que custará o emprego de 3 mil pessoas. Seria mesmo o caso do atleta o de “um país que não valoriza uma vida de dedicação”? Só vale quando há medalha de ouro envolvida?
No mundo ideal, todos os atletas teriam o talento compensado. Reconhecer que o mundo não funciona assim é o primeiro passo para o profissionalismo.