A gestão de um agente esportivo pode mudar completamente em um estalar de dedos, mas os hábitos de consumo do torcedor demandam tempo. Talvez mais tempo do que em outros segmentos. Afinal, quando se trata de esporte, há uma boa dose de tradição do consumidor.
Não é incomum haver pressa nessas mudanças, como se alterar a forma de pensar o esporte pudesse também transformar a percepção imediata do consumidor. É o caso, por exemplo, da Liberty Media com a Fórmula 1. As remodelações e modernizações da categoria eram urgentes, e a agência tem feito sem hesitar, com excelência. Mas parece haver alguma frustração na velocidade. O digital não andou como o esperado, e a modalidade ainda é um ser estranho ao desejado público feminino.
Não foi tarde demais para as mudanças, mas foi tarde. É preciso paciência para mudar costumes que são perpetuados há décadas no automobilismo mundial.
Ano passado, em uma conversa com executivos da ESPN dos Estados Unidos, perguntei por que o futebol ainda tinha tão pouco espaço, mesmo com o bom trabalho realizado pela MLS, a liga do país. A resposta foi simples: a NFL é de 1920, a MLB é de 1903, a NBA é de 1946. Por que uma liga da década de 1990 deveria ter mais espaço do que já tem?
O americano não tem o hábito de assistir ao futebol porque ele nunca fez isso na vida. A modalidade pode, claro, ocupar um espaço mais nobre no futuro. Por ora, é difícil furar décadas de tradição de outros esportes, por melhor e mais profissional que seja a gestão da MLS.
E é difícil achar exceções. Recentemente, o UFC deixou de ser um esporte de nicho para ganhar o público brasileiro. Ídolos foram criados, grandes eventos foram realizados no país. A Globo e até Galvão Bueno abraçaram a modalidade que poucos meses antes a maioria não sabia nem que existia. Poderia ser um caso notável de boa gestão que mudou o hábito dos torcedores, se não fosse por um detalhe: o negócio não se mostrou sustentável. Pelo menos não no tamanho que se imaginava. No ápice, Dana White chegou a dizer que o MMA seria maior do que o futebol. Foi questão de poucos anos para a afirmação parecer uma completa piada.
O UFC, o “soccer”, a Fórmula 1 ou qualquer outra marca esportiva bem administrada pode ganhar espaços no coração dos torcedores. Mas esse está longe de ser um mercado carente de opções. Boa gestão inclui pensar em longo prazo.