É uma prática comum no mercado esportivo brasileiro: se é entendido que o alcance é pequeno, o ingresso passa a ser gratuito. Deve ser um dos poucos segmentos profissionais no universo do entretenimento em que o tíquete não é cobrado. Isso acontece mesmo em competições com apelo de público, como o basquete, o vôlei e o futebol feminino. E está essencialmente errado.
Um bom exemplo do quanto essa linha de precificação está desalinhada com a demanda pôde ser visto no último sábado (16). O Corinthians abriu os portões de sua arena para a final do Paulistão Feminino diante do São Paulo e conseguiu, com isso, 28 mil pessoas no estádio, um recorde para o futebol feminino no Brasil. O número, no entanto, esconde alguns detalhes. Os ingressos, gratuitos, foram esgotados no primeiro dia de “vendas”.
Mas 36 mil foram distribuídos. Ou seja, 8 mil entradas ficaram, provavelmente, nas mãos de cambistas. Teve gente disposta a pagar, mas o time não recebeu nada e ainda viu um claro problema na distribuição.
O problema central é que o esporte profissional é caro. O borderô da partida de sábado não está disponível, mas, no domingo (17), 29 mil pessoas geraram um gasto de R$ 522 mil ao clube no jogo entre Corinthians e Internacional pelo Brasileirão, valor que foi compensado com a renda de R$ 1,3 milhão. No jogo feminino, o time paulista certamente teve que arcar com um grande prejuízo. Isso sem contar com o custo de um time estrelado e vencedor, com atletas da seleção brasileira. É uma realidade parecida com equipes da Superliga e do NBB que resolvem abrir os portões dos ginásios.
A ideia, claro, é divulgar o esporte e promover os patrocinadores, algo bastante válido. Além disso, arenas vazias são sempre um mau negócio. Mas será que o público sofreria grandes variações caso fossem cobrados ingressos de R$ 5, R$ 10 ou R$ 20?
A verba, além de cobrir alguns custos, geraria uma importante percepção de valor no produto esportivo, como já diz o manual básico do marketing. A criação do hábito de compra tem capacidade de mudar a relação entre o torcedor e o esporte. Isso, claro, sem desrespeitar o limite da demanda, algo que também é corriqueiro no Brasil, especialmente no futebol, com precificação que consegue repelir o torcedor do estádio.
No mundo do entretenimento, qualquer banda vagabunda de fundo de quintal cobra para ser assistida em um bar ou casa de show. A gratuidade em um grande evento esportivo, com ampla cobertura da mídia e milhões envolvidos, entre patrocinadores e verbas de televisão, não faz nenhum sentido.