Alguma coisa não faz sentido na história do doping do brasileiro Anderson Silva. E não é apenas o teste positivo em si. Houve erro de procedimento do UFC. Ou hipocrisia.
É difícil acreditar que coletas de sangue ou urina, realizadas em 9 e 31 de janeiro, tenham tido o resultado divulgado no mesmo dia. O primeiro teste demorou quase um mês para flagrar um doping banal, como é o de esteroides anabólicos. O último, apenas 3.
Se soube realmente só na terça-feira, o UFC rasgou o livro de regras da Agência Mundial Antidoping em pedacinhos. A série de irregularidades beira o amadorismo:
– Não comunicou o resultado com antecedência ao atleta.
– Não deu prazo para ele apresentar suas alegações.
– Não esperou Anderson Silva pedir a contraprova.
– Não aguardou que o exame da amostra B confirmasse o doping.
Pelo procedimento padrão, só depois disso é que a entidade poderia anunciar oficialmente o caso e suspender o atleta preventivamente.
Como acreditar então que “o UFC tem uma rígida e consistente política contra o uso de qualquer droga ilegal, de alteração de desempenho ou agentes mascarantes, por parte de seus atletas”?
É mais razoável supor que o UFC já soubesse do doping de Anderson Silva antes do esperado retorno ao octógono. Mas como cancelar a luta mais aguardada do UFC 183? Como dar as costas a todas as ações de marketing e negócios envolvidos no evento? E os milhões negociados por pay-per-view? E as ativações dos patrocinadores? E o comércio de produtos oficiais com a imagem do Spider? E o lucro das casas de apostas?
Longe de fazer o papel de virgem ultrajada e de efetivamente combater fraudes esportivas, o UFC parece ter compactuado com a farsa. Fez vistas grossas ao problema. Colocou no tablado alguém que não poderia estar lá.
Antes de ser negócio, o esporte já divulgava valores, como obediência às regras, respeito ao adversário e busca pela excelência. Hoje, esses valores são essenciais ao negócio do esporte. Mais do que lucros passageiros. Lições ainda não aprendidas pelo UFC.