Pela segunda vez em poucos meses, a presença de um político teve mais espaço do que o necessário em um evento esportivo. Como sempre, a figura é controversa. Outra certeza é que ela estará fora do contexto, sem ter nenhuma relação com o esporte praticado ou com a equipe vencedora. Para a competição, sobra apenas um problema de imagem, totalmente dispensável.
Na Copa América, foi Jair Bolsonaro quem resolveu aparecer. Inspirado no populismo dos generais do período militar, sempre exaltado pelo político, o presidente da república achou razoável entrar em campo e levantar a taça para o povo.
O que sobrou foi a imagem da recusa do técnico Tite em se associar a um político, além das mais diversas notícias sobre vaias da torcida e palavrões impublicáveis. Foi o mesmo constrangimento vivido por Dilma Rousseff durante os megaeventos no país, com a diferença que, com pouco tempo no poder, Bolsonaro permanece com alguns apoiadores na multidão, ainda otimistas com o Governo.
Em abril, uma cena parecida aconteceu no Campeonato Paulista. No torneio estadual, houve a presença de um senador em campo. E, muito pior, um deputado estadual chegou a erguer a taça de campeão junto com o capitão do time vencedor. Foi o ápice da picaretagem de um político tentando surfar na onda de um evento esportivo. E o que o próprio evento ganha com esse show de horror? Nada.
Vale a ressalva, claro, da diferença entre a presença do político e a presença da política no esporte. Demonstrações de engajamento político são sempre bem-vindas. Algumas das jogadoras da seleção dos Estados Unidos deram exemplo disso após o título da Copa do Mundo. A capitã Megan Rapinoe é uma ativista pela igualdade de gênero e pelos direitos LGBT. Democraticamente, ela usou a visibilidade do Mundial para levantar suas bandeiras. Suas atitudes e declarações, por sinal, não levaram a Casa Branca ao campo. Ao contrário, Donald Trump se mostrou publicamente incomodado com a atleta, o que só deixa claro como as questões levantadas são importantes.
A manifestação política e a manifestação partidária são atos distintos no jogo democrático. No esporte, o primeiro é válido por ser um direito de expressão em países livres, como o Brasil. O segundo, por outro lado, cria um desequilíbrio nesse jogo. Ao usar o futebol como palanque, Bolsonaro e Cia se associam a algo que não é deles. A iniciativa se torna, portanto, bastante desonesta com o público.