Em “Febre de Bola”, Nick Hornby se pergunta porque alguém pagaria para ficar num camarote de estádio se não havia mais festa nas arquibancadas.
O autor inglês se refere às profundas mudanças que passaram o futebol do país com a criação da Premier League nos anos 1990, que transformaram o modo de o torcedor acompanhar o time, nesse caso o Arsenal. O antigo frequentador do Highbury acintosamente desdenha o Emirates Stadium.
Em seu grito contra o futebol-teatro que se formou na Inglaterra, Hornby citou algo em seu best seller que precisa ser apurado com rapidez pelos dirigentes brasileiros. Para além do lado social e democrático que envolve uma festa livre nas arquibancadas, há latente prejuízo comercial com as seguidas repressões que acontecem nos estádios nacionais. E, se só dinheiro manda em nossos gramados, então chegou a hora de discutir melhor essa questão.
No cenário atual, a situação tem sido tratada de modo variado. Em São Paulo, por exemplo, está proibido praticamente tudo que se refira à festa. Até a torcida rival. Em Minas, houve a liberação de bandeiras e instrumentos só agora para a reta final do Estadual.
É difícil prever se Hornby está certo ou errado. Estaria a Premier League ainda mais valorizada caso se mantivesse popular? Vale duas lembranças: originalmente, o Relatório Taylor, que mudou o futebol do país, não tinha nenhuma referência à elitização do espetáculo. Eram normas de segurança. E a segunda liga mais rica da Europa, a Bundesliga, tem política inversa, com ingressos acessíveis e festa garantida.
A principal questão a ser avaliada é que, no Brasil, a relação com o futebol é diferente. A manifestação espontânea nas arquibancadas é a marca central. A ponderação inglesa é, aqui, levada ao extremo. O evento não pode jamais ser desassociado à festa.