A maior mudança provocada pela Fórmula 1 desde que passou para o controle da Liberty Media foi o de transformar digitalmente a categoria, que viveu sob a obscura era de Bernie Ecclestone à margem das redes sociais.
Mas uma pesquisa recente sobre o perfil do público que acompanha a F1 mostrou que só o fato de ser mais digital não basta para a categoria rejuvenescer quem a assiste. O maior problema enfrentado pela F1 é exatamente a mudança dos anseios da geração de jovens. A poderosa categoria do automobilismo se fez na época em que o sonho de consumo por carros, viagens e mulheres bonitas permeava a cabeça de muitos.
Hoje, viajar é muito mais fácil do que era antes, ter um carro não é mais objeto de desejo e, muito menos, sinal de status, e mulheres bonitas não são tão inacessíveis. O jovem tem outros desejos, que não passam geralmente por garagens e carros potentes.
Assim, o maior desafio da F1 é se mostrar uma competição esportiva interessante.
Os novos gestores têm demonstrado bastante preocupação com isso, tanto que as arriscadas ultrapassagens voltaram a ser valorizadas, enquanto a imprevisibilidade de uma corrida passou a ser algo perseguido pela Liberty Media na comunicação.
“Se não houver vítimas, não há problema”. Foi dessa forma que o mais alto executivo da Indy respondeu quando questionei a ele se havia temor de que o piso escorregadio da pista no sambódromo do Anhembi prejudicaria a corrida, que quase não ocorreu por falta de segurança para os pilotos. Na cabeça dos executivos do esporte nos Estados Unidos, o engajamento do público é a preocupação maior para mensurar o sucesso de uma competição. A Fórmula 1 está aplicando ao máximo esse conceito, tanto que agora já estuda fazer a largada acontecer com carros lado a lado.
O problema para a categoria, porém, é que a mudança de dono parece ter sido feita de forma tardia. Os carros perderam o apelo de antigamente para o jovem. E, como a F1 não quis, nas duas últimas décadas, falar com esse público, ela agora corre contra o tempo. Ser digital é o primeiro passo para tentar se aproximar dele, mas não basta estar no mesmo meio de consumo do jovem se o produto não conversa com ele.
Os próximos anos parecem ser cruciais para a sobrevivência da F1. Em quase dois anos de comando da Liberty Media, a categoria conseguiu dar um primeiro passo para deixar de ser coisa de nossos avós. Agora, ela parece aquele tio do pavê, que não deixa de ter o seu charme, mas parece ainda forçar a barra para ser um cara legal.