Para muitos jogadores com identificação com um clube, parece natural a transição da carreira nos gramados para a de dirigente. A regra aparentemente iria se aplicar a Andoni Zubizarreta. A nomeação do ex-goleiro para o cargo de diretor esportivo do Barcelona, feita pelo então presidente Sandro Rosell, representava uma espécie de reconciliação entre time e ídolo. Zubizarreta, que defendeu a meta do Barcelona por 8 anos, acabou dispensado após a vexatória final com o Milan na Liga dos Campeões de 1994.
O problema é que nem todo craque em campo consegue desempenho semelhante fora dele. A preparação técnica para o cargo, desprezada por muitos ex-jogadores, é essencial. Na prática, o reatamento da relação entre Barcelona e Zubizarreta não funcionou. O dirigente acabou demitido após quatro anos, menos tempo do que defendeu a camisa azul-grená debaixo do gol.
A gestão Zubizarreta foi um pesadelo para o torcedor do clube. Responsável por montar o elenco do time de Messi e Neymar, o ex-goleiro cometeu seguidos equívocos.
Para começar, não resolveu o problema da defesa, que tem sido o calcanhar-de-aquiles do Barcelona. Desde a aposentadoria de Puyol, o time improvisa no setor. Na temporada passada, Mascherano jogou fora de posição para compor a zaga, algo estranho para um clube com tanto poder financeiro. Para solucionar a questão, Zubizarreta fez apostas equivocadas com a contratação de Mathieu e Vermaelen. Nada deu certo, e o belga permanece lesionado.
O dirigente também não teve capacidade para convencer o goleiro Valdés, um dos líderes do elenco, a permanecer no clube. Bravo e Ter Stegen, contratados nesta temporada, até que não têm decepcionado. Mas nenhum dos dois se tornou dono da camisa 1. A sombra do titular do gol nos últimos 12 anos permanece forte. Zubizarreta nem pode alegar falta de experiência, já que viu o próprio Barcelona enfrentar a mesma dificuldade quando deixou o clube.
Não bastasse isso, o dirigente criou um problema para o meio-campo. Ante a aposentadoria próxima de Xavi Hernández, era de se esperar que Thiago Alcântara ou Fàbregas fosse assumir a posição na equipe. Zubizarreta dispensou ambos para apostar no croata Raktic.
O desprezo pelas revelações de La Masia, aliás, é outra marca da gestão Zubizarreta. Sob seu comando, o Barcelona preferiu liberar os jovens formados no clube, como Bojan, Muniesa e Tello, para se arriscar em contratações milionárias.
A maior negociação desta temporada, Luis Suárez, que chegou ao custo de € 81 milhões, ainda não empolgou. Alexis Sánchez, por sua vez, dispensado por quase metade desse valor, não para de fazer gols pelo Arsenal. Já foram 16 em 29 partidas. A vinda Neymar, a mais cara contratação de Zubizarreta, por sua vez, foi envolvida em escândalos. Até hoje ninguém sabe quanto realmente custou o craque brasileiro e se houve fraude fiscal.
Mas a cereja no bolo acabou sendo a proibição de contratar jogadores nas duas próximas janelas de transferência. A punição foi imposta pela Fifa por conta de irregularidade na contratação de jogadores menores de idade. Em um mercado tão dinâmico como o futebol atual, é um estrago considerável. Herança maldita para o sucessor de Zubizarreta administrar nas próximas temporadas.