Organização do evento ignora aflição de atletas e torcedores, e tem adiado decisão sobre alteração nos Jogos
Duda Lopes - São Paulo (SP) Publicado em 13/03/2020, às 10h01
O maior evento esportivo do ano é também aquele que está mais às margens de toda a polêmica que envolve o segmento esportivo e a pandemia do coronavírus. Os Jogos Olímpicos de 2020, até o momento, permanecem com datas inalteradas. Não se sabe exatamente a necessidade de um adiamento, mas impressiona a falta de sensibilidade dos responsáveis pela organização do evento.
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Nesta semana, a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, declarou que a mudança seria "impensável", reforçando o posicionamento de outros políticos do país em relação aos Jogos Olímpicos. O Japão já teve quase 700 casos de coronavírus, com 16 mortes. A capital, sede do evento, tem mais de 13 milhões de moradores e alguns fatos que marcam a alta densidade populacional, como o metrô mais cheio do mundo.
Além do possível risco, há o fator esportivo. Hoje, apenas 8 das 50 modalidades já tiveram os competidores definidos. Uma série de esportes tiveram eventos com classificação aos jogos suspensos. Para atletas e federações, o ano é um verdadeiro caos.
Para os torcedores, a mensagem passada é a menos olímpica possível: os interesses financeiros irão prevalecer sobre o senso comum global e o bem-estar das pessoas. O mundo pode parar, mas Tóquio 2020 não vai nem refletir.
Não é um pedido por adiamento, mas por uma demonstração de empatia. Especialmente no esporte, essa falta de tato com a situação vira uma mancha na imagem dos envolvidos. Uma declaração do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre a mera possibilidade de mudanças não custaria nada e talvez desse alívio a tantos atletas e torcedores espalhados pelo mundo.
Mas o COI e a organização dos Jogos Olímpicos não foram os únicos agentes do esporte que derraparam nesta semana. Basta lembrar que o francês Rudy Gobert, do Utah Jazz, da NBA, e o brasileiro Diego Costa, atacante do Atlético de Madrid, fizeram piadinhas públicas com o coronavírus, responsável pela morte de mais de 5 mil pessoas em todo o mundo. O atleta do basquete, diagnosticado com a doença poucos dias depois da piada, teve que pedir desculpas por ter sido pouco cuidadoso sobre o assunto.
Esse é um constrangimento que o maior evento esportivo do mundo não pode passar. A cena da tocha acesa em Olímpia, na Grécia, sem a presença do público já é desconfortável o suficiente. É no mínimo estranho ver NBA, Champions League e tantas ligas importantes paralisadas pelo mundo, enquanto os Jogos Olímpicos seguem fingindo que nada está acontecendo. Hoje, não haveria condição de sair do papel. Difícil imaginar algo daqui a quatro meses.