Tite será o técnico da seleção brasileira pelos próximos quatro anos. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou a renovação com o treinador nesta quarta-feira (25), o que, em teoria, garante o projeto desenvolvido por ele até a próxima Copa do Mundo. O assunto parece estritamente esportivo, mas ele quebra uma das correntes mais perversas da gestão do segmento no Brasil: o imediatismo e a ausência de planos de longo prazo em clubes e confederações.
Mesmo com a responsabilidade de ter recuperado um time que estava fora da zona de classificação para a Copa do Mundo, a manutenção de Tite não era unanimidade nem mesmo entre jornalistas do ramo. E essa é a prática comum no esporte nacional. Na seleção brasileira, desde 1978 um técnico não ficava no cargo após a realização de uma Copa do Mundo, independentemente do resultado em campo.
A prática parece um pouco bizarra atualmente. Campeão em 2018, Didier Deschamps está na seleção francesa desde 2012. A Alemanha, campeã em 2014, mantém Joachim Löw desde 2006 e já renovou seu acordo para 2022, mesmo com o vexame de seu time no Mundial russo.
O sucesso de Tite pode explicitar ao mercado esportivo que nada acontece de uma hora para outra. No campo esportivo, a pouca preocupação com isso fica clara a todo momento. Nesta semana, por exemplo, técnicos de Palmeiras e Santos foram demitidos. O problema é que essa mentalidade passa para outras questões, bem menos visíveis aos torcedores.
Ela passava por diversos fatores da gestão do esporte, da pressa para popularizar uma modalidade à ausência de uma estratégia para lotar arenas de futebol. Não há um único grande clube hoje que mantenha um plano de metas efetivo para a próxima década, algo absolutamente costumeiro para qualquer empresa séria.
O problema vai além: ele atinge diretamente o mercado de patrocínios no esporte. Quando dirigentes se recusam a fazer um plano de longo prazo, dificulta-se muito a venda de projetos de aportes que tenham uma maior profundidade. Com raras exceções, o que se vê no mercado nacional é uma série de acordos curtos que dificilmente chegam a um ano. A culpa não é das marcas, mas da carência dos clubes na hora de mostrar algo diferente, um caminho para o crescimento mútuo.
É difícil acreditar em um plano sério da CBF. Ainda assim, o fico do treinador pode ser um marco para o modo de pensar a gestão do esporte no Brasil.