Neste sábado (1o), Liverpool e Tottenham entrarão em campo para disputar a decisão da Liga dos Campeões. A final certamente confundiu apostadores; era difícil de imaginar esse cenário no mais importante torneio de futebol do mundo. Mas, para a competição, essa é uma vitória, com a quebra do domínio de três times nos últimos anos. E desequilíbrio técnico é péssimo negócio.
Nas últimas dez finais da Liga dos Campeões, sempre esteve em campo um dos três times que dominaram o futebol nesse período: Real Madrid, Barcelona ou Bayern de Munique. Os dois times espanhóis levaram sete dessas dez disputas. Isso tornou a competição uma competição de cartas quase marcadas, um pesadelo para o esporte.
A magia do futebol e de qualquer outra modalidade popular é a sensação de que todos podem almejar o posto mais alto. Da maneira que estava, o caminho natural era por um maior desinteresse de torcedores que são chave para a popularidade do torneio. Não é o fã do time de várzea, mas aquele que acompanha as outras grandes e médias equipes do continente europeu.
É o caso dos atuais finalistas.
Liverpool e Tottenham estão longe de serem zebras na competição. O primeiro foi vice-campeão na última temporada e conta com um badalado trio de ataque. O segundo vive um momento especial: acabou de inaugurar aquela que é provavelmente a mais moderna arena de futebol do mundo. Não é por acaso. Segundo a Deloitte Football Money League, os dois estão entre as dez equipes mais ricas do planeta.
E esse é um ponto importante: a Liga dos Campeões não pode ser um objeto distante de, por exemplo, uma das maiores torcidas de Londres. O ideal, claro, é que houvesse um sistema de distribuição que qualquer time de elite pudesse em algum momento sonhar com o título, como fazem os americanos em suas principais ligas esportivas. Mas já é um avanço se a luta ficar restrita a pelo menos uma dúzia de agremiações, e não uma constante briga contra três equipes que são dominantes.
A final surpreendente da Liga dos Campeões dá força ao torneio e também é um golpe contra a esdrúxula ideia da Superliga, um torneio fechado de equipes europeias. Provavelmente, Liverpool e Tottenham estariam dentro deste grupo, mas a própria existência dele apenas reforçaria as diferenças econômicas do topo da elite do futebol.
Esporte conta histórias graças ao tom “aspiracional”; é o que faz os grandes produtos serem especiais. A Liga dos Campeões não pode perder isso.