Se banir torcida organizada fosse uma medida efetiva para diminuir a violência nos estádios, os anos 1990 já teriam acabado com o problema. Após a trágica “Batalha Campal” do Pacaembu em 1995, o Ministério Público resolveu extinguir a Mancha Verde e a Independente, medida que se provou inócua nos anos seguintes.
Alguns clubes e alguns meios públicos mantêm a ilusão de que acabar com a violência que ronda o país é possível com algumas medidas simples, como se o problema não fosse extremamente complexo. Eles não são os únicos: tem candidato a presidência do país que recentemente declarou que violência se combate “na porrada”, em discurso que encontra eco em alguns setores da sociedade.
O curioso é que diversas medidas adotadas são repetidas, mesmo sem ter tido êxito recentemente. A tentativa vã de afastar torcedores organizados, a repressão a artefatos de estádios, o processo de elitização das arenas e a implementação da ‘torcida única’ são bravatas cantadas nos bastidores, sempre sem nenhum efeito prático.
A solução não é simples e não é feita em curto prazo. Envolve uma compreensão macrossocial e uma organização que atinja diversos fatores do torcer. Na Alemanha, país que virou exemplo pós-7×1, existe um trabalho de diálogo com torcedores organizados, com assistência social do Estado às agremiações, em um esforço que une Governo, Bundesliga e clubes.
Portanto, a medida do Flamengo é, mais do que pouco efetiva, desonesta. Ela faz uso de uma punição econômica a grupos específicos que nem mesmo foram identificados no caos generalizado do Maracanã. Mais uma vez, os dirigentes transferiram a responsabilidade para a ponta mais fraca.