A experiência do torcedor em estádios de futebol sofreu uma revolução no Brasil na última década. As longas filas deram lugar a sistemas modernos de distribuição, as arenas ganharam cadeiras e os pontos cegos foram substituídos por visões privilegiadas do campo. Um fator, no entanto, permanece inalterado, pelo menos na maioria das cidades do país: a presença da Polícia Militar.
O que seria a solução para a organização dos eventos esportivos invariavelmente termina em situações inadmissíveis. Neste último final de semana, houve mais uma cena completamente fora de propósito: um policial agrediu um pai, ao lado do filho, na partida entre Fortaleza e Palmeiras. Seja qual fosse o contexto da partida no Castelão, as imagens deixam claro que a ação era totalmente desnecessária.
Quem vai com frequência a estádios de futebol já está acostumado com o despreparo do policial militar, seja na truculência na revista ou na recusa em organizar filas simples. Tudo porque, de fato, o profissional não foi treinado para isso e entende o jogo como uma perda de tempo, além de constantemente lidar com situações de violência entre os torcedores.
No fim da ponta, fica uma experiência terrível para os torcedores, mesmo com toda a evolução das arenas esportivas e de seus serviços. O clube perde consumidores graças à manutenção da ideia de que os estádios são locais onde a violência ainda predomina. Será difícil, por exemplo, convencer um torcedor do Fortaleza a levar o filho na próxima partida do time.
A solução não é simples porque a gestão de torcedores em um estádio é complexa. E a violência existe, o que torna a ajuda de policiais militares necessária em determinadas situações. Por isso, algumas medidas já tomadas não tiveram o efeito desejado. No Rio de Janeiro, os policiais saíram de dentro dos estádios após a última reforma do Maracanã, mas já há projeto para mudar a Lei Estadual, inclusive com o apoio do Flamengo. É entendido que os PMs custam menos que os seguranças contratados.
Novamente, a solução ideal não é simples e envolve o treinamento de uma mão de obra que simplesmente não existe no país. O que não pode ser admitido é que, em um ambiente de esporte tão profissional, o torcedor seja tratado como bandido e que haja cenas como as gravadas em Fortaleza.
Esse é mais um assunto complexo que o futebol insiste em empurrar com a barriga, como o calendário caótico e a falta de credibilidade institucional. Trata-se, no entanto, de questões absolutamente fundamentais.