A polêmica do final de semana no futebol foi o veto que o Flamengo havia feito ao uso da expressão “Festa na Favela” em sua comunicação oficial. O caso gerou para o clube uma crise em rede social que, aparentemente, acabou sendo rapidamente contornada com a conquista de mais um título estadual.
O episódio reforça um problema que tem se tornado cada vez mais comum no futebol mundial, que é o afastamento do esporte do povo. Característica fundamental para o seu sucesso, o esporte é o que há de mais democrático no entretenimento. Não existe distinção por raça, gênero ou classe social para a paixão pelo esporte. A música pode ser fenômeno popular, mas não é qualquer tipo de música que agrada a todos.
O problema é que, com o desenvolvimento cada vez maior do esporte como negócio, a necessidade de gerar mais dinheiro começou a gerar uma exclusão de quem não tem poder de consumo. Na Europa e nos EUA, nos anos 90, o aumento de receita via TV a cabo e PPV já tinham deixado o público sem dinheiro distante. Com a construção dos estádios modernos, esse movimento acentuou-se ainda mais.
Agora, é o Brasil que passa por isso. Equilibrar as contas sem fechar as portas do futebol para o povo parece ser uma difícil tarefa a ser alcançada. Para piorar, movimentos dos próprios dirigentes em redes sociais criam ainda mais essa segregação.
Na Inglaterra, após solucionar o problema com os hooligans, os dirigentes depararam com uma nova crise. Como reaproximar o futebol das pessoas? A bilionária Premier League encanta aos olhos dos amantes da bola, mas se torna cada vez mais um objeto meramente de desejo de consumo, muito distante da realidade.
O problema disso é que, aos poucos, o futebol vai se transformando em mais uma fonte de segregação das pessoas, gerando ainda mais ódio e discriminação. Não por acaso, movimentos de ultradireita vão se tornando cada vez mais comuns dentro dos estádios pela Europa. O ambiente que deveria ser de união se transforma ainda mais num polo de exclusão das pessoas e de disseminação do preconceito.
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No Brasil, em que os clubes ainda não encontraram o equilíbrio entre valor do ingresso e presença de público nos estádios, temos uma ótima chance de mudar essa preocupante realidade. O estádio pode ser para o rico e para o pobre. Assim como o acesso ao clube. Para isso, temos de aprender cada vez mais com os alemães. Por lá, a regra é fazer do futebol um organismo democrático. Há espaço para todos.