Falcão é, sem sombra de dúvidas, o Rei do Futsal. Maior jogador da modalidade em todos os tempos, o que ele fez em quadra nas duas últimas décadas foi espetacular. O problema, porém, é que a grandeza de Falcão é tamanha que ele acabou, mesmo sem querer, sufocando a modalidade que ajudou a popularizar.
Um claro exemplo disso é o novo acordo firmado com a Penalty pelo craque. Falcão será embaixador da marca pelos próximos cinco anos. Nos últimos anos, mesmo tendo a seleção brasileira como trunfo, a Penalty simplesmente não recorreu a um atleta para ser o garoto-propaganda desse patrocínio. Com Falcão tendo outros acordos, a marca esperou terminar o contrato dele para então voltar a investir em sua imagem.
O problema que o futsal vive hoje é a extrema dependência do maior craque que já existiu dentro de quadra. A imagem de Falcão é tão grande que nenhuma marca pensa em investir no esporte se não estiver de alguma forma ligada ao agora ex-jogador.
O mesmo problema que sufocou o tênis no Brasil durante uma década pós-Guga é o que acomete o futsal na atualidade. Esse é um dos maiores dilemas que os gestores esportivos precisam enfrentar. O ídolo que é carismático consegue levar uma modalidade a um novo patamar. Mas, se ele se torna maior que o esporte em si, acaba por sufocar o crescimento da modalidade.
Foi assim com o tênis sem Guga no Brasil, será assim nos próximos anos com o atletismo no mundo sem Usain Bolt. E, ao que tudo indica, será o grande desafio do futsal brasileiro daqui para a frente.
Temos uma liga nacional estruturada, a televisão ainda tem interesse em transmitir a modalidade. O que falta ao futsal, hoje, é preparar-se para a realidade sem ídolos. O esporte precisa investir no fortalecimento de seu produto. Seleção Brasileira e Liga Nacional são muito maiores do que um ou outro atleta. Os times possuem vínculos com as cidades onde estão estruturados. É preciso atacar com força as redes sociais e agitar a comunidade fã do esporte, transformando-o num estilo de vida além do jogo.
Esse é um dos segredos para o fortalecimento do basquete no Brasil mesmo sem um ídolo com o peso que um Oscar teve há 30 anos e com a NBA muito distante. O problema é que, para esse modelo dar certo, é preciso uma gestão de planejamento a longo prazo.
O primeiro passo a ser dado pelo futsal é mostrar que há esporte sem Falcão. A partir disso, o trabalho de renovação da imagem da modalidade precisa caminhar. A boa notícia é que, agora, o maior ídolo do futsal não estará dentro de quadra.