O limite para a brincadeira e a provocação no esporte é um assunto recorrente na comunicação do segmento. Atualmente, ela também passou a ser uma preocupação para a mídia esportiva, após trilhar profundas mudanças nas últimas décadas e se adaptar a uma nova realidade.
A Globo é bastante simbólica desse momento. Especialmente pelo Globo Esporte de São Paulo, a emissora viu uma mudança de formato ser necessária. O jornalismo padrão, sério, deu lugar a situações muito mais descontraídas. O esporte na emissora passou, em pouco tempo, a ser mais jovem e a ter mais audiência.
Mas não foi um caminho sem tropeços. Pelo contrário: foram algumas as vezes em que a descontração passou do ponto. E é isso o que vive a Globo neste exato momento, em uma situação mais distante do jornalismo, em um produto que exemplifica bem o quanto que a empresa tem considerado o esporte como entretenimento.
O Cartolouco é o símbolo do jogo Cartola, um enorme sucesso da emissora na promoção do Campeonato Brasileiro e na aproximação com o público jovem. Mas o personagem vivido por Lucas Strabko ofendeu o Fortaleza e, segundo o UOL, corre o risco de sair da emissora.
Não foi o único caso polêmico recente no esporte. O Athletico Paranaense, grande campeão da Copa Sul-Americana deste ano, também derrapou. Para exaltar suas forças, lançou um vídeo em que provocou o apelido de alguns de seus rivais no futebol brasileiro. Convenhamos: desdenhar terceiros para mostrar grandeza é uma estratégia no mínimo contraditória.
Marcas também cometem erros ao se excederem. Neste ano, por exemplo, a Kappa argentina prometeu sorteio de camisas a cada gol do Racing sobre o Vasco, em referência à goleada que o time aplicou nos brasileiros pela Libertadores. A empresa simplesmente ignorou o mercado nacional e um time que já foi parceiro da companhia italiana. Tudo pelo engajamento da piada momentânea.
Esporte, claro, é um momento de descontração, alegria e brincadeiras. E os agentes que compõem esse mercado não podem ignorar o fator lúdico do futebol e de outras modalidades. Mas não enxergar os limites em nome do entretenimento é uma péssima linha a ser seguida, pois nunca haverá vencedores a longo prazo.
Por ora, não foi inventada solução melhor: para o discurso oficial, o bom é só exaltar o próprio lado. Desdenhar a paixão alheia nunca é bom negócio.