Na semana passada, a Globo fez um movimento que há muito não acontecia no futebol brasileiro. A emissora decidiu transmitir, para todo Brasil, duas partidas das quartas de final da Copa Libertadores.
Nos números do Ibope para São Paulo, a aposta não se mostrou boa para a emissora. Boca Juniors x Cruzeiro rendeu 22 pontos de audiência, enquanto Colo-Colo x Palmeiras deu, na quinta-feira (20), apenas 23 pontos na medição do Ibope para a Globo.
O resultado foi bem mais fraco do que Flamengo x Corinthians pela semifinal da Copa do Brasil na semana anterior (29 pontos) e pior ainda quando comparado à eliminação corintiana da Libertadores, que chegou à marca de 33 pontos.
Mas, mais do que o resultado em si, a aposta da Globo numa transmissão nacional pode se mostrar uma espécie de “salvação” para o futebol brasileiro. Há 30 anos, quando a Libertadores ainda não era um objeto de desejo para os clubes, a transmissão do Campeonato Brasileiro era o que tínhamos de essencial na televisão.
E, naquela época, não havia a regionalização dos jogos como acontece hoje. Isso garantia para toda a cadeia produtiva do futebol um retorno muito maior. Os times eram mais conhecidos nacionalmente, os patrocinadores de todos os clubes tinham mais exposição e o torcedor não ficava preso a apenas clubes de apelo local.
No final dos anos 90, preocupada com a queda da audiência na transmissão do futebol e tendo de gastar cada vez mais dinheiro para ter os direitos exclusivos, a Globo passou a determinar que a tabela do campeonato fosse organizada de forma a não causar abalo na medição do Ibope. Assim, o calendário passou a ser regionalizado.
Por isso mesmo, serve de alento para a Globo o fato de Cruzeiro e Palmeiras terem obtido praticamente a mesma audiência na transmissão em São Paulo. Mais do que o interesse num time específico, o número mostra qual o interesse geral do torcedor na competição. Naturalmente que, afunilando ainda mais o campeonato, os índices de audiência ficarão maiores, independentemente dos times na disputa.
Apenas quando voltarmos a pensar no futebol brasileiro como um produto é que vamos conseguir dar mais força para os clubes e, naturalmente, melhor retorno para os investidores do esporte. Sejam eles patrocinadores, empresas de mídia ou torcedores. A transmissão nacional da Libertadores é um primeiro bom indício para isso, mesmo que o resultado da audiência ainda tenha sido mais baixo do que o normal.