Morreu Eurico Miranda. Mas o legado que o dirigente vascaíno deixa ao futebol é enorme. O estilo truculento e centralizador do ex-presidente do Vasco costuma fazer sucesso no universo do futebol. E, muitas vezes, isso confunde o imaginário das pessoas. O jeito Eurico de ser é visto como benéfico ao clube que o dirigente representa. Mas, na prática, não costuma ser.
Sim, as maiores conquistas da história do Vasco foram na época em que Euricão mandava e desmandava não apenas no clube mas no futebol brasileiro e no Congresso Federal. Ou seja, não era só força interna, mas muito poder externo.
Só que algumas das maiores vergonhas do Vasco também tiveram como protagonista o dirigente. A queda da arquibancada de São Januário em 2000, que teve Eurico dentro do gramado expulsando torcedores feridos para tentar reiniciar o jogo. E, ainda, dois dos três rebaixamentos vascaínos tinham o dirigente como presidente do clube.
Mas, para além do universo vascaíno, Eurico se transformou num personagem que teima em perdurar no esporte. Confundimos, muitas vezes, pulso firme no comando com truculência. Mais do que isso, caímos no conto de fadas de que todos podem andar sozinhos, desde que usem como argumento o amor ao clube. E, assim, deixamos de lado qualquer tipo de noção coletiva da gestão do esporte.
Eurico Miranda talvez tenha sido o mais bem-sucedido dos dirigentes centralizadores do futebol nas últimas décadas. O discurso inflamado de amor ao clube também ajudou a popularizar a ideia completamente errada de que a rivalidade do torcedor precisa ser aplicada para além da arquibancada. Em desunião, o futebol brasileiro regrediu sensivelmente nas últimas duas décadas, coincidentemente o período em que o estilo de Eurico foi visto como benéfico por muitos formadores de opinião.
O Vasco conquistou muito tendo Eurico como dirigente. Mas também perdeu muito. E essa conta raramente é feita nas considerações sobre seu legado no futebol.
É por isso que a herança de Eurico continua no esporte mais praticado do país. Mesmo com a saúde debilitada, ele se esforçou para ser mais uma vez presidente do Vasco em 2015, cargo em que ficou até 2018. Sem a mesma vitalidade de 20 anos atrás, mas com o mesmo jeito truculento de ser. E, principalmente, muito distante dos resultados do passado.
Eurico Miranda se foi. Mas deixa uma herança que precisa acabar. A união entre os clubes é vital para o negócio crescer. Resta saber se há líderes para promovê-la.