“Mas a proposta era muito mais alta.”
Foi esse o argumento que recebi de pessoas ligadas a alguns clubes para justificar a escolha feita por eles para a venda dos direitos de placas de publicidade estática e de transmissão internacional do Campeonato Brasileiro a uma empresa desconhecida.
O que se sabe da BRMedia, que tem por trás o banco de investimentos Riza Capital, é quem são as pessoas que estavam representando a empresa na apresentação da proposta para a Comissão de Clubes da CBF: Patricia Coelho, o ex-presidente do STJD Celso Rocha e o empresário Alexandre Grendene, sócio da Vulcabras. E só.
Qual a experiência que eles têm na venda de placas de publicidade ou de direitos de mídia ninguém se preocupou em saber. Ou, então, aceitaram qualquer resposta.
Antes, a preocupação que se tinha em relação a essa venda era se os clubes, finalmente, aceitariam fazer uma negociação em bloco. Logicamente Flamengo e Corinthians não aceitaram. Seguem sem querer dividir por igual o dinheiro e acreditam que futebol pode ser feito sozinho. Eles só não vendem sozinhos direitos internacionais de transmissão porque sabem que não teriam apelo no mercado para tal.
Mas o buraco é mais embaixo. Para variar, os clubes seguem a lógica de olhar o dinheiro, sem perguntar a que preço ele chegaria a seus combalidos cofres. Na necessidade de ajustar o fluxo de caixa (ou de pelo menos tapar o buraco da sangria), os clubes aceitam sempre a proposta de maior valor, sem saber se ela é a melhor entrega.
Como será a exploração comercial das placas? O que as empresas terão de benefício além da entrega de mídia? Quem vai realizar a montagem das placas? Como serão as ações a que essas empresas eventualmente tenham direito? Quem coordena isso?
E na venda internacional? Qual o critério para escolha dos parceiros de transmissão? De que forma haverá a exportação da marca do futebol brasileiro? Como será o alcance desse negócio? De que forma isso fará o Brasileirão virar um produto internacional, que ajude a promover também as marcas do clube?
Ah, mas o valor era muito maior… Há dois anos, a Dry World surgiu com propostas mirabolantes para vestir clubes de futebol no Brasil. Em menos de seis meses, Atlético-MG, Fluminense e Goiás não viram sequer qual era a cor do dinheiro.
Enquanto a lógica de um negócio for só a do maior valor oferecido, seguiremos apostando em milagres para fazer crescer o futebol brasileiro como produto.