No dia seguinte à semifinal do Campeonato Paulista, entre Santos e Corinthians, uma busca rápida na internet pelo time da capital revelava um problema aos finalistas: diversos veículos de imprensa, entre eles Estadão, UOL e Record, usaram o termo “covardia” para qualificar o time classificado à final. Em qualquer empresa de outro segmento, a questão seria tratada como uma profunda crise de imagem. No futebol, não é assim que funciona. Mas deveria ser.
O esporte relativiza uma crítica dessa, mesmo em um tom tão pesado, porque entende que o resultado é mais importante. O título conquistado no último domingo (21) seria então a melhor gestão de crise que o clube poderia aplicar. Mas é uma estratégia míope; o modo como um time joga também passa por uma questão comercial.
Há um certo entendimento na mídia esportiva de que o jogo truncado virou tendência no Brasil. Nas últimas temporadas, times como Corinthians, Palmeiras e Cruzeiro deram claros exemplos disso.
A estratégia pode funcionar em campo, mas trava fora dele. Primeiro que a associação de valores como “covardia” nunca é bom negócio. E, depois, o clima de “jogo feio” que tem sido criado é um péssimo modo de cativar o torcedor. Uma final como a disputada no Campeonato Paulista repele os menos fanáticos.
Evidentemente, a questão não é simples. O Corinthians é um bom exemplo. O técnico chegou há quatro meses, com um time em péssima fase e compromissos domingo e quarta-feira. Difícil julgar as decisões que mantiveram a equipe na Copa do Brasil, Sul-Americana e ainda renderam o título paulista. Somente em premiação, o clube já levou R$ 13 milhões neste ano.
Mas, como um todo, os clubes deveriam pensar em modos de melhorar o produto dentro de campo. Na Europa, essa tem sido uma regra não explícita, mas que claramente tem sido aplicada nas temporadas mais recentes. No Velho Continente, claro, é mais fácil: sobram euros, e craques se acumulam pelos gramados.
Em mercados menos poderosos, também há esse entendimento informal. É o caso da MLS, que convive entre o drama da mediocridade técnica e a necessidade de atrair novos torcedores. Hoje, o “jogar feio para ganhar” não faz sentido nos EUA.
É difícil convencer os times que essa deve ser uma prioridade porque, em curto prazo, o que vale é o resultado em campo. Com uma mentalidade mais profissional, no entanto, são necessários novos modos de tornar o futebol mais atrativo a todos.