Além de jornalista, há cinco anos me tornei professor de pós-graduação em jornalismo. No encerramento dos cursos práticos, gosto de discutir os rumos da profissão e os desafios éticos com os quais nos deparamos. Na última terça, um dos assuntos da aula na FMU foi a apuração ter sido atropelada pela exigência de divulgação em tempo real.
Há alguns anos, as redações eram mais povoadas e tinham boa mescla de repórteres jovens e cheios de gás com jornalistas experientes e de grande vivência em coberturas. Essa configuração ruiu na década atual. Redações enxutas são praticamente formadas só por novatos, que na maioria das vezes não contam com o privilégio que minha geração teve de receber orientações de mestres do jornalismo.
Os mecanismos de controle e apuração ficaram frágeis. Os elos dessa cadeia produtiva se romperam. Sintoma disso é a quantidade de erros que são publicados. Às vezes até deliberadamente, para conquistar audiência. Em outras, por falhas a que ninguém está imune. Normalmente, são fáceis de serem corrigidos.
Nada é pior, porém, do que anunciar a morte de um personagem como aconteceu nesta quinta-feira (dia 29) com Adriano Gabiru, ídolo do Internacional e autor do gol que deu o título mundial ao clube há dez anos.
Não é algo inédito. No século XIX, o escritor Mark Twain foi surpreendido com a publicação de seu obituário nos jornais. Reagiu com bom-humor. “As notícias a respeito da minha morte são exageradas.”
Há erros perdoáveis. Nada que uma boa errata não cicatrize. Morte é um daqueles indesculpáveis. Ao menos se a publicação ambicionar credibilidade. Caso contrário, será só motivo de piada.