Poucas vezes um zero a zero no placar representou tanta coisa como nesta terça, em Cardiff, capital do País de Gales. Com o resultado, o Cardiff City FC, principal de futebol clube do país, garantiu o acesso para a Barclays Premier League, primeira divisão do futebol inglês, e a chegada a um novo patamar.
A ascensão do Cardiff após 51 anos é consequência de uma série de mudanças drásticas motivadas por uma troca de comando no clube.
Em maio de 2010, o malásio Tan Sri Vincent Tan Chee Yioun, mais conhecido como “Mister Tan”, tornou-se sócio majoritário do clube e começou a alimentar o projeto de volta à elite do futebol em meio a grandes dívidas e até risco de falência no clube.
Em troca de investimentos em um novo centro de treinamentos, melhoras no estádio e jogadores para o elenco, a única exigência do empresário foi uma mudança na imagem do Cardiff.
A partir de 2012, os “Bluebirds” trocaram seu uniforme predominantemente azul, com detalhes em branco e amarelo pelas cores vermelho e preto. Já o pássaro azul do escudo foi substituído por um dragão vermelho. Tudo, segundo Tan, para melhorar a imagem do clube.
Desde a chegada do empresário, o Cardiff City fracassou em três oportunidades de chegar à primeira divisão em três oportunidades, perdendo nos playoffs em todas e vendo até seu rival galês, o Swansea City, se garantir entre os 20 principais times da liga.
Na última terça, o objetivo foi alcançado, e em 2013/2014, por primeira vez na história, dois times galeses disputaram a Premier League Inglesa. E esse acesso representará não só o auge esportivo Cardiff City, mas também um novo patamar financeiro para a equipe e a cidade que lhe dá nome.
Com a renovação do acordo pelos direitos de transmissão da Premier League, na próxima temporada, o time deve receber mais de 50 milhões de libras por parte das emissoras Sky Sports e BT. O acordo total com a liga chega a mais de três bilhões de libras por três anos, 70% a mais que na atual temporada.
Segundo Adam Bull, consultor da agência Deloitte, com a ajuda da televisão, as receitas do clube devem aumentar em 60 milhões para o ano que vem, quadruplicando os 20 milhões de libras anuais que o clube arrecada atualmente.
Além disso, com um novo sistema de remuneração por parte da liga inglesa, mesmo caindo já na temporada de volta à Premier League, o time assegura cerca de 60 milhões pelas próximas quatro temporadas, caso não retorne a elite nesse tempo. Essa foi uma recente mudança que pretende amortecer a queda das equipes e evitar um impacto financeiros muito forte, como aconteceu, por exemplo com o Portsmouth, que em 2010 disputou a Premier League e nesta semana caiu para a terceira divisão.
Mas o impacto não se limita ao futebol. De acordo com Tom Cannon, professor pesquisador do grupo de indústria do futebol da Universidade de Liverpool, o impacto econômico para novas cidades que recebem a Barclays Premier League costuma ficar entre 30 e 60 milhões de libras já na primeira temporada. Cannon afirma ainda que Cardiff teria um impacto muito maior: “Cardiff é unica por ser uma capital nacional e contar com todo tipo de coisas que outras cidades não têm. Eu estaria surpreso se a promoção do Cardiff City, se bem trabalhada, não agregasse entre três e cinco mil empregos para a cidade”.
“Haverá um beneficio econômico direto pelo maior número de visitantes e torcedores vindo à Cardiff, mas acima de tudo, temos a imagem da cidade sendo promovida mundialmente”, declarou Huw Thomas, secretário de esportes da capital galesa.
O pequeno pássaro tornou-se realmente um dragão. O clube que dez anos atrás voltava à segunda divisão após 18 anos de ausência retorna agora à elite do futebol inglês, o mais importante campeonato nacional do mundo do ponto de vista financeiro. Com o dinheiro malaio e o nome da cidade por trás, o acesso do Cardiff City promete reafirmar o futebol e a economia de Gales no meio do predomínio inglês na Grã Bretanha.