Liverpool, Tottenham, Chelsea e Arsenal. Ao ler os nomes destes quatro clubes, qualquer um remeteria à Premier League, certo? Pois é. Na atual temporada, no entanto, pode-se ampliar o leque e dizer que, ao citar estes quatro times ingleses, o fã de futebol refere-se também às duas principais competições europeias de clubes.
Liverpool e Tottenham farão a final da Liga dos Campeões da Uefa no próximo dia 1° de junho. Já Chelsea e Arsenal disputarão o título da Liga Europa três dias antes.
Pela primeira vez na história, quatro clubes de um mesmo país decidem os títulos das principais competições da Europa. O feito inédito também ajuda a explicar, dentro de campo, o sucesso que a Premier League possui fora das quatro linhas.
Na última edição do Deloitte Football Money League, estudo sobre as finanças do futebol feito pela consultoria Deloitte, dos 24 clubes de maior receita do futebol mundial, 12 são ingleses. Exatamente metade. E entre eles estão até alguns de pouca expressão no cenário europeu, como Everton, Leicester, Southampton e Crystal Palace.
Se a lista for restrita ao Top 10, são nada menos que seis ingleses: Manchester United (3º), Manchester City (5º), Liverpool (7º), Chelsea (8º), Arsenal (9º) e Tottenham (10º), justamente o tão falado “Big Six” do futebol inglês. Apesar da liderança dos espanhóis Real Madrid e Barcelona, o predomínio britânico é evidente. Quatro deles estão nas finais continentais, enquanto United e City caíram apenas nas quartas de final da Liga dos Campeões.
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As receitas englobam direitos de televisão, patrocínios e venda de ingressos. Se forem somadas as dos 12 ingleses presentes entre os 24 da lista, o valor chega a mais de € 4,25 bilhões. Para se ter uma ideia, o país que fica mais perto é a Espanha, que tem três equipes da LaLiga na lista: Real Madrid (1º), Barcelona (2º) e Atlético de Madrid (13º). O valor dos três espanhóis somados alcança pouco mais de € 1,74 bilhão, quase duas vezes e meia a menos que os ingleses do ranking.
É emblemático o feito acontecer 30 anos após a tragédia de Hillsborough, que matou 96 torcedores do Liverpool pisoteados por conta da superlotação do estádio que abrigava a semifinal da Copa da Inglaterra. O acontecimento foi um divisor de águas para o futebol inglês.
A partir daquele ano, a Inglaterra adotou severas medidas de melhoria de segurança em estádios e punição a maus torcedores. Aos poucos, a Premier League foi se transformando num novo jeito de consumir futebol nas arquibancadas.
Depois, em 2003, quando o Chelsea foi comprado pelo bilionário russo Roman Abramovich, o segundo salto aconteceu. Os clubes começaram a receber investimentos privados e uma nova onda de crescimento surgiu na liga inglesa.
Isso se traduziu no aumento significativo de receita com direitos de mídia da Premier League e numa divisão cada vez mais igualitária de recursos entre os clubes, visando o fortalecimento das equipes e o aumento de competitividade dentro da liga.
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Recentemente, o predomínio das equipes espanholas nas competições europeias deu a falsa impressão de que todos os investimentos feitos pelos ingleses no futebol não geravam retorno dentro de campo em nível continental. Nos últimos cinco anos, foram cinco títulos espanhóis na Liga dos Campeões (quatro do Real Madrid e um do Barcelona) e quatro na Liga Europa (três do Sevilla e um do Atlético de Madrid).
O ano de 2019, porém, acaba com essa tese ao colocar, pela primeira vez, quatro times de um mesmo país nas decisões das competições europeias. A Premier League é, atualmente, o melhor campeonato nacional de futebol do mundo. E a transformação das finais da Liga dos Campeões e da Liga Europa numa “mini Premier League” é a consagração disso.