A agenda cheia contemplou participação na Assembleia Geral do COI (Comitê Olímpico Internacional), em Lima, Peru, quando Paris e Los Angeles foram oficializadas sedes dos Jogos de 2024 e 2028.
Eleito em setembro presidente do IPC (Comitê Paralímpico Internacional), o brasileiro Andrew Parsons, 40, desde então mergulhou em uma rotina alucinante de viagens e compromissos oficiais.
Parsons entrou para o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) em 1997, como estagiário na assessoria de imprensa. Com ascensão fulminante, foi eleito presidente da entidade nacional 12 anos depois.
O trabalho no comitê, que gerou um oitavo lugar no quadro geral de medalhas no Rio 2016, credenciou o dirigente a se candidatar, sendo eleito por maioria absoluta logo na primeira rodada.
Em entrevista à Máquina do Esporte, Parsons falou dos desafios à frente do IPC, da necessidade de atrair mais patrocinadores e aumentar a representatividade global do esporte paralímpico. Também comentou a investigação sobre possíveis irregularidades na eleição do Rio 2016.
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Máquina do Esporte: Que análise o sr. faz do estágio atual do movimento paralímpico? Quais os ganhos em visibilidade que o esporte obteve com o Rio 2016?
Andrew Parsons: O movimento paralímpico saiu fortalecido após os Jogos Rio 2016. Nós sabíamos do poder dos Jogos Paralímpicos como um instrumento de mudança da percepção em relação às pessoas com deficiência, mas fomos além. O brasileiro abraçou o esporte paralímpico. O público lotou as arenas no Rio para ver atletas de alto rendimento, para ver esporte e entretenimento para a família. Estamos mais fortes do que nunca, mas também ainda temos muito a conquistar.
MDE: Quais os principais desafios que o sr. terá pela frente nos próximos quatro anos?
AP: Temos 176 Comitês Paralímpicos Nacionais filiados ao IPC, mas apenas 20 ou 25 têm uma situação mais confortável, o Brasil incluído. Então, um dos grandes desafios será tornar o movimento paralímpico algo realmente global. Como disse quando fui eleito, uma organização existe para servir aos seus membros. Juntos, podemos proporcionar um melhor caminho para os atletas paralímpicos de todo o mundo. Além disso, temos outros desafios. Precisamos atrair mais patrocinadores, mais parceiros comerciais e precisamos também tornar o tema da classificação funcional mais amigável, mais fácil de entender pelo público.
MDE: Como o Comitê Paralímpico Internacional planeja investir na internacionalização do esporte paralímpico, especialmente em países financeiramente frágeis?
AP: Temos que propor novas ideias, ir ao encontro dos Comitês Paralímpicos Nacionais, conhecer de perto a realidade de cada um. Temos mais de 50 países que foram aos Jogos no Rio por convite porque não tinham dinheiro ou estrutura. O IPC tem que oferecer soluções nas mais diferentes áreas, de marketing e comunicação passando por desenvolvimento de atletas e alto rendimento. Temos que promover um maior contato entre os Comitês Paralímpicos Nacionais, Regionais e também as Federações Internacionais que cuidam de nossas modalidades.
MDE: Logo após sua eleição, o sr. falou em estreitar as relações com o COI (Comitê Olímpico Internacional). Quais as iniciativas conjuntas que pretende implementar?
AP: Queremos ter uma relação mais estreita com o movimento olímpico como um todo. Organizações regionais, por exemplo, têm muito a se beneficiar dessa parceria, como acontece com o Comitê Paralímpico das Américas e a Odepa em relação aos Jogos Parapan-Americanos. No Chile, o Comitê Olímpico local foi fundamental para o surgimento do Comitê Paralímpico Chileno. Tivemos um primeiro contato bastante positivo durante a Assembleia Geral do COI em Lima, mas essa é uma relação que vai muito além de IPC-COI.
MDE: Com os patrocinadores atuais, o movimento paralímpico é sustentável para o crescimento do esporte? Ou é necessário atrair novos parceiros comerciais?
AP: O IPC passou de uma organização para pessoas com deficiência para uma das maiores organizações esportivas do planeta. Foi um grande trabalho conduzido por nosso ex-presidente, Sir Philip Craven. Temos uma situação que nos permite planejar melhor nosso futuro. Mas o IPC ainda é uma organização muito jovem. Agora, nosso trabalho passa por aumentar a visibilidade e fortalecer a nossa marca. Precisamos atrair mais patrocinadores e de mais dinheiro.
MDE: A eleição do Rio 2016 é alvo de suspeitas em investigação conduzida pelas polícias de França e Brasil. Como o sr. vê esse problema?
AP: Este é um momento preocupante para o movimento esportivo no mundo todo. Estamos vendo novamente uma série de denúncias e de casos que precisam ser apurados, mas sem apontar dedos para ninguém especificamente, dando a todos o direito de se defender.
MDE: Como fazer para que o processo eleitoral seja mais transparente e não seja manchado por novos escândalos?
AP: O mais importante é entender que mecanismos são esses que levam o esporte a correr os riscos de estar envolvido em situações como essas. O movimento esportivo não pode se dar ao luxo de se tornar algo em que as pessoas não acreditam, que o público e os patrocinadores percam interesse. Isso pode acarretar em menos investimentos e em menos cidades se candidatando a sede de grandes eventos. É um momento de fazer uma autoavaliação muito dura.