“O Conselho é um c”ncer no Corinthians”. A frase é forte e foi dita pelo presidente do clube, Andrés Sanchez. A menos de quatro meses para o fim da atual gestão, a diretoria corintiana deixa clara a sua indisposição com o Conselho Deliberativo e justifica a política pouco coloquial adotada nos últimos anos.
Um dos principais dirigentes de Andrés Sanchez, o diretor de marketing Luis Paulo Rosenberg, reforçou a insatisfação com o Conselho Deliberativo do clube. Usou como exemplo o comentário supostamente feito pelo presidente do órgão, Carlos Senger, sobre a “República Popular do Corinthians”: “Após todo o sucesso da campanha, após ela ter conquistado um Leão de Bronze em Cannes, ele reclamou: ‘Isso é coisa de comunista’”.
A concepção da diretoria do Corinthians é que os conselheiros do time têm pouca condição de ajudar no processo de modernização da gestão, ancorada em profissionais contratados a partir dos cargos de gerência. Além disso, por disputas políticas, por vezes o Conselho atrapalharia a direção, até mesmo por vazamentos de informação.
Apesar de até então ter sido evitado manifestações tão diretas como as que aconteceram nesta semana, o afastamento entre as decisões tomadas pela diretoria e a interferência do Conselho ficaram acentuadas em 2010, quando o Corinthians se preparava para fazer o anúncio de seu estádio.
Durante a Copa do Mundo, Andrés Sanchez estava na África do Sul com a delegação brasileira. Coube a Rosenberg representar a diretoria em uma reunião do Conselho que apresentou a proposta para a construção de uma arena em Guarulhos, com o suporte financeiro do banco Banif.
Rosenberg já tinha o plano para Itaquera formulado, o que foi apresentado dois meses depois. No entanto, até mesmo a sua localização era mantida em sigilo pela diretoria, o que irritou o Conselho, que queria a aprovação da arena em Guarulhos. A alegação do órgão era que, pelo estatuto do Corinthians, um estádio deveria ser decidido pelos conselheiros.
Frente à insistência dos conselheiros, Rosenberg se irritou, chegando a jogar o microfone no chão e se retirar. Em setembro, com o estádio em Itaquera exibido publicamente e com o aval do Estado para a arena sediar a Copa do Mundo, o Conselho aprovou oficialmente a decisão da diretoria.
O presidente do Conselho do Corinthians, Carlos Senger, diminui o atrito entre o órgão e a diretoria. “Para dizer o que ele disse, o Andrés devia estar irritado com alguma pessoa. Falou sem pensar”, afirmou.
Até mesmo a declaração de Rosenberg sobre a “campanha comunista”, Senger negou. “Eu disse que República Popular levava a um equívoco e que ele, como grande economista que é, deveria ter pensado em algo mais típico do Corinthians”, ressaltou.
Para Senger, a impressão de ruptura acontece pela oposição mais efusiva de alguns membros do Conselho, que apenas “cumprem o seu papel”. Ainda assim, o dirigente não nega que haja um distanciamento da diretoria, o que poderia irritar alguns se seus colegas. “O que o Conselho quer é saber o que está acontecendo”, finalizou.
Independente do julgamento do Conselho Deliberativo, Andrés Sanchez não precisará do aval do órgão para eleger seu sucessor, Mário Gobbi. Politicamente, uma das principais medidas do atual presidente foi instituir as eleições diretas, em que os sócios votam para presidente. Até 2008, os conselheiros elegiam o presidente do clube.