Imagine a situação de um patrocinador da seleção francesa de futebol atualmente: você despeja milhões para usar a imagem de uma equipe que foi vice-campeã mundial quatro anos antes e que conta com jogadores de ponta no futebol europeu, como Henry, Ribéry e Anelka. E duas rodadas depois do início da Copa, a situação é o caos que se instaurou nos Bleus. Entre dispensas, brigas, acusações de traição e iminente desclassificação, o time nacional amedronta seus investidores.
“Não é tanto pela derrota, mas pelo espírito. Há diferentes maneiras de perder. Quando você se converte em um patrocinador, quer estar associado a algo entusiasmante, que leve valores a sua marca”, disse Olivier Michel, consultor de patrocínios esportivos, em entrevista à agência de notícias francesa AFP.
O exemplo mais claro do temor que tomou conta dos patrocinadores é dado pela Adidas. A empresa de material esportivo vendeu 500 mil camisas oficiais em 2006, ano em que a seleção chegou à decisão da Copa do Mundo. Em maio de 2010, já tinha atingido 300 mil. A meta de passar o resultado do torneio anterior, que parecia simples, agora é vista como uma possibilidade remota.
“Vamos seguir sendo torcedores dos Bleus independentemente do resultado. A primeira fase ainda não está terminada, e existe uma chance ínfima de classificação”, afirmou Emmanuelle Gaye, porta-voz da empresa na França.
O principal problema para a Adidas é que a empresa não poderá se recuperar se as vendas forem abaixo do esperado neste ano. Em 2011, a marca será substituída pela rival Nike na França.
A chance de eliminação precoce, contudo, cria temor até para patrocinadores com mais tempo de contrato pela frente. Afinal, muitas marcas criaram campanhas especiais para a Copa do Mundo deste ano, apostaram na seleção em seu plano de comunicação e agora veem uma grande chance de precisarem mudar a estratégia.
O patrocínio a uma equipe esportiva, evidentemente, está diretamente relacionado ao resultado. Portanto, empresas devem pensar em alternativas para a comunicação em caso de revés. O problema é que a crise da seleção francesa atual é maior, mais escancarada e pode extrapolar o período da Copa do Mundo.
Toda a celeuma envolvendo a atual vice-campeã mundial começou quando o atacante Nicolas Anelka, substituído no intervalo da derrota para o México, foi dispensado do elenco em plena Copa do Mundo. A decisão aconteceu depois de um jornal francês ter divulgado ofensas do jogador ao técnico Raymond Domenech no intervalo da partida.
A reação do capitão da seleção, Patrice Evra, foi dizer que havia um traidor no grupo e que esse elemento havia vazado a história para a imprensa. Isso precedeu outra crise, também divulgada por um jornal da França, que teria sido uma discussão entre Ribéry e Gourcouff dentro de um avião.
Depois, o próprio Evra se desentendeu com o preparador físico Rober Duvene, que tentou agredir o lateral. No meio de tudo isso, Jean-Louis Valentin, chefe da delegação francesa na Copa do Mundo, pediu demissão.
A questão ficou ainda pior quando Nicolas Anelka, atendendo a um pedido dos jogadores, tentou iniciar um diálogo com a Federação Francesa de Futebol (FFF) para amenizar o entrevero inicial. A iniciativa do atacante foi rechaçada, e o restante do elenco se revoltou. Em carta, eles disseram que a entidade nacional dá mais atenção a jornais do que a eles. Além disso, decidiram não participar de um treinamento na África do Sul para mostrar revolta.