Chegamos à final da Copa do Mundo da Rússia. Passados 62 jogos, 30 seleções deram adeus às chances de título. Apenas franceses e croatas sonham com seus capitães erguendo a taça no próximo domingo (15) em Moscou, para uma audiência que deve superar 1 bilhão de pessoas.
Uma seleção eliminada remete a emoções negativas em uma cultura como a brasileira, apaixonada e exigente quanto aos resultados. Um amigo português diz que “brasileiro não gosta de esporte, gosta de ganhar”, referindo-se ao nosso comportamento futebolístico e às modalidades que têm popularidade acompanhadas de vencedores esporádicos, como o tênis com Guga, ginástica com Daiane ou natação com Gustavo Borges. Não concordo plenamente com a tese, mas ele tem um ponto interessante.
Sim, temos uma obsessão pelo primeiro lugar. A música que fez mais sucesso para a torcida nessa Copa fazia referência ao ano de cada título mundial. Quando algum argentino ou alemão brincava com algum brasileiro na Rússia, logo se apontava para as cinco estrelas na camisa. Mais que grandes equipes, o brasileiro (e a imprensa) guarda na memória as escalações dos times campeões. O segundo é o primeiro dos últimos, ser vice é motivo de chacota inclusive entre torcidas.
A torcida da Inglaterra chamou a atenção após sua seleção tomar a virada da Croácia. Ingleses viajaram milhares de quilômetros para “levar o futebol de volta pra casa”. Mesmo com a decepção da derrota, a torcida cantou o hino “Deus salve a Rainha” no fim do jogo e saudou seus abatidos jogadores, que ficaram por cerca de 10 minutos aplaudindo os torcedores, em sinal de agradecimento e respeito mútuo.
Quando o Brasil foi eliminado, os jogadores rapidamente voltaram para o vestiário, os grupos de WhatsApp bombaram com memes ridicularizando nossa seleção, passamos a buscar os culpados da vez, teorias da conspiração voltaram com tudo, manchetes com “os erros de Tite” surgiram, e Neymar virou chacota nacional.
Somos tão apaixonados por futebol quanto os ingleses, que venceram sua última Copa há mais de 50 anos. Visto que o esporte é uma das formas mais eficientes de lição para quem o pratica e assiste, o exemplo inglês faz pensar. Antes de “Bola pra Frente”, um pouco de “Keep Calm” e “Mind the Gap” podem ajudar.
* David Pinski é louco por futebol há 42 anos, marketeiro há 21 e está na sua 2ª Copa do Mundo