A Stock Car que começou no último domingo (23) em Interlagos com vitória de Felipe Fraga e Rodrigo Sperafico começou diferente. A começar pelo fato de que foram dois os vitoriosos. A categoria fez, pela primeira vez, uma corrida de duplas: metade da prova é feita pelo piloto “titular”, e a outra metade, por um piloto convidado por ele. Como resultado, vários estrangeiros participaram. Esta temporada também vai ter rodadas duplas, com uma corrida de 40 minutos e outra de 20. Todas essas alterações no regulamento tem um porquê comercial por trás.
Mauricio Slaviero, diretor geral da Vicar, organizadora da categoria, contou em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte o que mudou em 2014 e, principalmente, por que mudou. Só esta novidade de haver rodadas duplas já faz com que a Stock Car tenha 50% mais tempo de transmissão no Sportv. A presença de mais estrangeiros abre caminho para uma internacionalização que, daqui a alguns anos, pode virar uma das prioridades. E, pergunta obrigatória em 2014: a Copa do Mundo de futebol atrapalhou? Slaviero admite que sim.
Máquina do Esporte: Em 2014, há alguma novidade na Stock Car?
Mauricio Slaviero: A gente tentou um formato novo de televisão, para que a gente conseguisse que o público que assiste em casa possa ter mais emoções nas provas e nas transmissões. A primeira corrida da temporada será uma corrida em duplas: todos os pilotos da Stock Car tiveram que convidar um outro piloto para correr com eles. Por isso, estamos com muitos pilotos estrangeiros aqui. Pilotos de Espanha, Inglaterra, Itália. São oito países diferentes representados. É a primeira vez que isso acontece na categoria nacional.
Máquina do Esporte: Algo muda nas transmissões?
Mauricio Slaviero: Nós vamos ter nove etapas da temporada que serão transmitidas pelo Sportv. Vão ser rodadas duplas, ou seja, duas corridas por final de semana. Nós teremos uma corrida normal, de 40 minutos, e mais uma de 20. Nosso objetivo é aumentar a “atratibilidade” do evento para o público, não só quem assiste na TV, mas também quem vem ao autódromo. E com certeza aumentar a visibilidade dos patrocinadores, do evento e dos pilotos. Nós vamos ter mais tempo de exposição na televisão e consequentemente o retorno para todo mundo será maior.
Máquina do Esporte: Quanto tempo a mais de televisão vocês vão ter?
Mauricio Slaviero: Pelo menos 50% a mais, em função das nove etapas em que teremos as rodadas duplas. Além disso, continuamos com a transmissão ao vivo, na Globo, da Corrida do Milhão. Essa é uma corrida tradicional, super conhecida. E a última etapa da temporada também pela Globo. Além de um compacto na Globo das provas transmitidas pelo Sportv, e, no domingo seguinte após a realização das mesmas, no Esporte Espetacular.
Máquina do Esporte: Além do aumento do tempo na televisão, o que mais será feito?
Mauricio Slaviero: Essa prova de duplas, que é uma corrida super inusitada. E o resultado final será realmente uma incógnita, porque são muitos pilotos que nunca andaram no carro, nunca andaram na categoria, e pela primeira vez vão estar andando. Então a gente quer realmente trazer essa emoção e essa dúvida sobre quem será o campeão da prova.
Máquina do Esporte: Como foi esta temporada em termos de patrocínios?
Mauricio Slaviero: Com certeza um mercado um pouco diferente do normal em função da Copa do Mundo. Mas para a gente está tudo bem. Nós conseguimos trazer um parceiro novo para o evento, a Cielo. Os nossos outros parceiros continuaram, então nós estamos muito satisfeitos. Acho que será um ano muito bom. Continuamos com a parceria com a Schin que fechamos no ano passado, que tem os naming rightss da categoria: Circuito Schin Stock Car. Além de Mobil, Shell, Pioneer, Chevrolet, Peugeot, Transzero, parceiros que estão conosco há muito tempo.
Máquina do Esporte: Vocês chegaram a ter alguma empresa que se recusou a fechar patrocínio por causa da Copa do Mundo?
Mauricio Slaviero: Claro, sem dúvida isso aconteceu. Com certeza algumas empresas estão com esse foco. E nada mais natural que isso aconteça em ano de Copa do Mundo.
Máquina do Esporte: E no caso das equipes? Elas tiveram problemas para conseguir patrocinadores?
Mauricio Slaviero: Eu acho que foi muito bom, na verdade. A gente tem 33 carros confirmados no grid dos 34 que temos no mercado. A maioria renovou com os patrocinadores, além de algumas marcas novas que estão chegando na Stock Car, como, por exemplo, a Havoline, que volta a patrocinar a equipe do Allam Khodair. Então eu posso dizer que este é um ano bom, com os mesmos 33 carros que tivemos no ano passado.
Máquina do Esporte: Ter pilotos de várias nacionalidades ajuda de alguma maneira?
Mauricio Slaviero: Ajuda. Traz não só mais atenção da mídia brasileira e do público brasileiro, despertando neles a curiosidade de vir aqui assistir a esses pilotos internacionais, seja aqui ou pela televisão, andando em um carro produzido no Brasil e em uma competição nacional, como também ajuda internacionalmente. Faz a categoria ser mais conhecida. A gente já é uma categoria conhecida porque muitos pilotos estrangeiros já andaram aqui. O Pizzonia, a vinda do Barrichello, o próprio Villeneuve, o Bruno Senna. Mas mesmo assim é importante outros pilotos também virem. E não só a mídia internacional está muito mais interessada na Stock Car em função dessa prova, como a gente recebe ligação, e-mail, deles querendo informação, querendo notícia. É a primeira vez que nós vamos fazer releases em inglês. Pode ser um detalhe, mas é uma mudança muito importante para a categoria. E eu acho que o próprio boca a boca entre esses pilotos lá fora vai fazer com que essa corrida ano que vem seja ainda mais relevante em nível internacional.
Máquina do Esporte: Está nos planos internacionalizar o evento?
Mauricio Slaviero: Sim. Hoje a Globo Internacional já transmite as corridas lá fora, mas a gente tem esse objetivo, sim. Daqui a talvez dois ou três anos começar a trabalhar um pouco mais isso e ter transmissões lá fora da categoria.
Máquina do Esporte: Vocês se inspiram em algum campeonato ou categoria na parte promocional, comercial?
Mauricio Slaviero: Sim, vários. A DTM, na Alemanha, o V8, na Austrália, a Nascar, sem a menor dúvida. Eu diria que esses três são os que a gente mais fica atento porque são os mais próximos da gente. Mas existem também aqui na Argentina dois campeonatos muito fortes e importantes: a TC2000 e a Turismo Carretera.
Máquina do Esporte: Vocês conseguem importar algum tipo de ação dessas competições?
Mauricio Slaviero: Claro, sempre tem. Não só na parte técnica, mas na parte desportiva também. Essa prova de duplas, mesmo, não é uma invenção que eu tirei do nada. É uma coisa que já acontece lá fora em outras categorias. A V8 australiana tem três ou quatro provas que são assim. Então a gente traz muita coisa que a gente acha legal, diferente, interessante para o público. Eu estive ano passado na DTM e percebi que eles fazem uma estrutura de entretenimento para o público das arquibancadas muito interessante. E isso é mais uma coisa que a gente está fazendo desde o ano passado. A gente tem áreas atrás das arquibancadas para esse público que vem assistir à prova com simuladores, com áreas para fotografias, com carros antigos da Stock Car.
Máquina do Esporte: Como está a questão dos licenciamentos?
Mauricio Slaviero: A loja de produtos da Stock Car, que não tivemos ano passado, está voltando agora. Nessa área de licenciamentos é um acordo que nós temos com a Globo Marcas e que também tem crescido bastante. Estamos lançando uma linha toda de produtos de car care: shampoo para automóveis, cera, uma série de produtos com a marca Stock Car. Então a gente tem trabalhado bastante para levar a marca Stock Car para diversos públicos diferentes, e não só aquele aficionado em automobilismo.
Máquina do Esporte: O que vocês vão fazer de ações para o público neste ano?
Mauricio Slaviero: Os patrocinadores já fazem muita coisa. A gente faz muitas ações em aeroportos, shoppings centers, exposição dos carros, de fotografias, da história da categoria e dos carros. Mas também existe todo um trabalho de patrocinadores fazendo ações diferenciadas.
Máquina do Esporte: Quantas provas terá esta temporada?
Mauricio Slaviero: São 12 etapas no ano, com 21 corridas.
Máquina do Esporte: Como está o país em termos de infraestrutura? Como estão os autódromos?
Mauricio Slaviero: Existe alguma melhora nos autódromos. Esse ano a gente vai ter a reinauguração do autódromo de Goiânia, que está ficando maravilhoso. Brasília também está prometendo uma reforma no autódromo a partir desse ano. A gente está voltando para Santa Cruz, que está fazendo uma reforma muito grande também para receber a gente lá esse ano. Então eu diria que está melhorando. Logicamente que a gente gostaria de estar com muito mais autódromos no nível desses que eu comentei, mas isso está acontecendo devagar. Eu tenho certeza que nos próximos três, quatro anos, isso vai melhorar bastante.
Máquina do Esporte: Quanto a Corrida do Milhão, haverá alguma novidade?
Mauricio Slaviero: O formato dela será o mesmo dos últimos anos porque o sucesso foi absoluto. A gente está em fase final de negociação com uma empresa para vender os naming rights dessa corrida, algo que a gente deve anunciar até final de abril ou meados de maio. O local da corrida ainda não está confirmado. Pode ser que aconteça em São Paulo novamente, mas existe a possibilidade de acontecer em outras cidades. Fora isso, o formato da prova será o mesmo.