A Fifa vai escolher em dezembro deste ano as sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022. A proximidade transformou o 60º congresso anual da entidade, realizado na última quinta-feira, em Johanesburgo, em uma disputa política entre as candidatas. Foram montados nove estandes para apresentação dos projetos, alicerçados em estereótipo de cada um dos países. Há seis candidatas a sediar a Copa do Mundo de 2018: Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Rússia e os projetos conjuntos de Bélgica e Holanda e Espanha e Portugal. Para a edição seguinte do Mundial, a disputa também terá Coreia do Sul, Qatar e Austrália. O caso da Austrália, aliás, é o mais curioso. Até quinta-feira, o país pretendia participar também da briga pela Copa do Mundo de 2018 ? a maior prova disso é que o material de campanha entregue aos dirigentes da Fifa fala sobre as duas edições do torneio. No entanto, organizadores do projeto australiano anunciaram ainda em Johanesburgo a retirada da primeira proposta. A decisão da Austrália revela um pouco do clima que precede a escolha da Fifa. Após duas Copas longe da Europa (2010 na África do Sul e 2014 no Brasil), existe entre alguns dirigentes a ideia de que a competição precisa voltar ao Velho Continente. ?Vejo a briga mais aberta para 2022, mas acho natural esse caminho acontecer em 2018?, opinou o alemão Franz Beckenbauer nesta semana, em evento oficial da Adidas no país-sede do torneio desta temporada. E se o congresso da Fifa pode ser usado como par”metro, o Qatar deve ser um candidato forte para 2022. Na última quinta-feira, dirigentes se acotovelavam para pegar brindes e prospectos dos países que postulam o direito de organizar os torneios. Em meio a esse tumulto, o estande do país do Oriente Médio era o mais badalado. Nos estandes, os países entregavam aos convidados um material que confirma alguns estereótipos. A proposta do Japão para a Copa do Mundo, por exemplo, é baseada na ideia de promover uma revolução tecnológica no torneio ? inovações restritas à experiência do espectador e não referentes aos jogos, coisa que Joseph Blatter já rechaçou duas vezes apenas nesta semana. Uma das apostas dos japoneses é um projeto para transmitir toda a Copa do Mundo em 3D. Além disso, eles prometem serviço de estatísticas para o público nos estádios por meio de realidade ampliada, pretendem criar um sistema de inovador de telões de alta definição dentro das arenas, idealizam um sistema de som para colocar nas arquibancadas os barulhos do campo e até projetam tradutores de 50 idiomas para os turistas que forem ao país. A proposta ainda dá destaque especial a uma ideia de ingresso inteligente. Os bilhetes da Copa do Mundo no Japão seriam cartões eletrônicos, com sistema de GPS e informações sobre tr”nsito, o jogo e o cliente. Tudo isso é absolutamente oposto ao projeto da Inglaterra. Seguindo a linha da imagem do país, os brit”nicos montaram um plano que exalta sua tradição e a import”ncia que a região tem para o esporte. Além disso, o documento contém números que mostram o quanto a população local se interessa pela modalidade. Outra candidatura que confirma um estereótipo local é o projeto conjunto de Espanha e Portugal. Trata-se de um documento com forte apelo emocional, que usa a união entre os dois países como mote para propor um trabalho com esse foco também no esporte. A lista de clichês prossegue nos Estados Unidos, cujo projeto é focado na força do esporte local e nos números positivos do país. Mas também permeia o plano do Qatar, alicerçado na grandiosidade que direcionou construções no país desde que o dinheiro dos petrodólares se tornou realidade. A candidatura que mais foge do padrão de valorização de pontos tradicionais é a de Bélgica e Holanda. O projeto dos dois países tem como principal destaque a questão ambiental, que ganhou força na Copa do Mundo desde a edição da Alemanha. Austrália e Rússia valorizaram os países em seus projetos, mas adotaram como principal argumento a ideia de que a Copa do Mundo precisa se abrir para novos mercados. Nos dois casos, a apresentação tentou mostrar o tamanho e a relev”ncia das regiões. Por fim, a candidatura da Coreia do Sul foi a mais comedida. O país asiático não deu brindes portentosos e apresentou um prospecto mais simples do que os usados pelos rivais.