Acabou a “Era Dunga” na principal emissora de televisão do Brasil. A relação estremecida entre a Globo e o treinador da seleção pentacampeã foi um dos principais assuntos da Copa do Mundo de 2010, mas foi superada ainda na África do Sul. Na última quinta-feira, no lançamento da logomarca oficial do torneio de 2014, houve uma clara demonstração do quanto o canal voltou a se aproximar da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
A festa para divulgação da logomarca foi realizada em Sandton, área nobre de Johanesburgo, no mesmo prédio que abrigou o congresso da Fifa deste ano e a Casa Brasil. Houve presenças como Ricardo Teixeira (presidente da CBF e do comitê organizador local da Copa de 2014), Joseph Blatter (presidente da Fifa) e Luiz Inácio Lula da Silva (presidente da República), mas vários fatores escancararam a relação do evento com a Globo.
Em primeiro lugar, a cerimônia foi conduzida pelo casal Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert, dois atores que fazem parte do elenco global. Um vídeo foi apresentado sobre a expectativa do povo brasileiro com a Copa do Mundo e uma contagem regressiva para a apresentação da logomarca. A produção desse material foi feita pela Globo, com narração de Renato Machado e vinheta sonora do canal.
Além disso, havia três equipes da Globo trabalhando no local – o Sportv, canal fechado que pertence ao grupo, transmitiu o evento ao vivo. Assim que a cerimônia acabou, enquanto o restante dos jornalistas ainda se dirigia ao palco em que os convidados estavam, a emissora já fazia material exclusivo com Lula, Teixeira e o ex-jogador Romário, um dos convidados do evento.
O evento demonstrou abertamente a mudança no relacionamento entre CBF e a emissora, o que já havia ficado claro no início da semana. Na segunda-feira, Ricardo Teixeira concedeu entrevista exclusiva ao Sportv. Durante essa conversa com jornalistas, reclamou abertamente do técnico Dunga, que havia entrado em atrito com a Globo durante a Copa.
O cerne da polêmica entre Dunga e a Globo é o comportamento do comandante da seleção sobre privilégios que eram concedidos à emissora. O treinador vetou entrevistas exclusivas, proibiu jogadores de falarem com a imprensa quando estivessem de folga e cortou acesso da mídia a eventos do time nacional.
Robinho deu uma entrevista exclusiva para a Globo durante a Copa do Mundo, mas precisou pedir desculpas a todo o grupo por conta disso. Dunga ainda adotou uma postura de fazer treinos fechados à imprensa, dificultando a obtenção de imagens sobre a seleção brasileira, mas o ápice da crise foi a reação do treinador durante uma entrevista coletiva. Na ocasião, um comentarista do canal carioca falava no telefone e irritou o técnico, que proferiu palavrões captados pelo microfone da sala.
A situação entre Globo e CBF na Copa do Mundo ficou tão tensa que a entidade chegou a tomar iniciativa para aparar arestas criadas por Dunga. No contrato de compra dos direitos de transmissão da competição, a emissora tem assegurado pela Fifa o direito a conteúdo jornalístico exclusivo.