A primeira plataforma de vídeos sobre a vida de jogadores de futebol acaba de ser lançada mundialmente. A Otro, marca da Our Star Club, empresa comandada por Jeremy Dale, chega ao mercado com um time de peso.
Um grupo de 17 atletas do calibre de Neymar, Messi, Beckham e Zidane encabeça um projeto ambicioso: ser a maior rede social paga com conteúdo sobre futebol. A reportagem da Máquina do Esporte conversou na tarde deste domingo (2) com Dale, que contou sobre os planos da empresa cerca de seis horas antes do lançamento da plataforma.
“Nosso escritório está parecendo uma filial das Nações Unidas”, brincou o executivo, que contabiliza passagens por empresas como Motorola e Microsoft, onde atuou no departamento de marketing.
A meta da Otro é aproveitar o engajamento dos atletas nas redes sociais para angariar assinantes. Os 17 primeiros fundadores da plataforma possuem um total combinado de 850 milhões de seguidores nas redes. E a expectativa é de ter outros craques no time, como Cristiano Ronaldo.
Confira a seguir a entrevista com Jeremy Dale:
Máquina do Esporte: Como está a expectativa para o lançamento?
Jeremy Dale: Estamos todos muito animados e nos sentindo bem. Todo mundo veio para o escritório para fazermos o lançamento. Nunca vi tanta gente aqui dentro. Acho que é a primeira vez que tanta gente está tão animada para trabalhar num domingo à noite.
ME: Qual o princípio que norteou a criação da Otro?
JD: Nossa ideia é aproveitar a relação dos grandes líderes do futebol com os fãs. As pessoas, hoje, querem ter uma conexão profunda com os grandes jogadores. O que fizemos foi criar um fã-clube digital, criado para os fãs. É um lugar onde os jogadores podem mostrar o outro lado de suas vidas, algo que nunca foi feito antes. Nós sabemos um pouco mais sobre eles pelas redes sociais, mas não sabemos as histórias sob o ponto de vista deles próprios.
ME: Como foi possível montar esse time de atletas?
JD: Levou um certo tempo até termos todos os jogadores contratados. Os cinco primeiros com quem assinamos foram Neymar, Messi, Beckham, James Rodríguez e Suárez. Todos eles assinaram juntos. E a partir dali tivemos uma expansão rapidamente do nosso time. Nunca havia imaginado, nem nos meus melhores sonhos, de já ter esse grupo de jogadores logo no início.
ME: Como vocês conseguiram chegar a esses jogadores?
JD: Temos boas conexões com eles. Eu fui diretor de marketing da Motorola, então tinha contato com o David Beckham, que foi embaixador da marca enquanto eu estava lá. E dali partimos também para outros jogadores.
ME: Tem alguns jogadores que estão ausentes da plataforma. Vocês não conseguiram chegar a um acordo com eles? Acredita que será possível tê-los após o lançamento?
JD: Com certeza tem alguns que adoraríamos ter na plataforma. Mas por conta de outros compromissos assumidos e até pelo plano de carreira de alguns, isso não foi possível. Mas acreditamos que, assim que todos tiverem contato e conhecerem a plataforma, poderemos ter essas pessoas que estão faltando.
ME: Qual é a expectativa de assinantes da plataforma?
JD: É muito difícil darmos um número. O que sabemos é que os jogadores que estão no lançamento da Otro têm uma rede de 850 milhões de seguidores nas redes sociais. Não precisamos de todos eles como assinantes para o negócio ser bem-sucedido. Nosso primeiro objetivo é fazer com que os fãs amem o conteúdo e a experiência que terão no aplicativo. Se isso acontecer, os números vão naturalmente crescer. Nosso primeiro objetivo é criar um ótimo conteúdo para o fã.
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ME: O projeto pode ser considerado uma evolução do “The Players’ Tribune”?
JD: Nossa produção é de conteúdos em vídeos de até 15 minutos de duração. Um deles, que é muito interessante, é chamado de “Modern Games”, que é uma visão dos jogadores de como eles veem o jogo mudando, não é só sobre um momento específico (como no “The Players’ Tribune”). Essas conversas servem para nos dar ótimos insights sobre o que virá.
ME: Como assim?
JD: Eu vi Beckham e Neymar conversando sem ter a barreira da linguagem. Tínhamos tradutores para auxiliá-los na conversa, então foi algo que fluiu muito bem. E, na conversa entre eles, o Beckham entregou um papel em branco e pediu para o Neymar assinar, dizendo que seria um contrato dele com o Miami para daqui a dez anos. Então o Neymar começou a chamar o Beckham de “meu presidente”, foi algo simplesmente incrível.
ME: O diferencial passa a ser o conteúdo em vídeo, então?
JD: Não só. Nossa proposta é termos os conteúdos de curta duração e produzidos pelos próprios jogadores. Tem, por exemplo, um vídeo que foi feito pelo Gabriel Jesus, dele jogando sinuca com a mãe dele. Deu para perceber ali de onde surgiu a vontade dele de ganhar. A comemoração que a mãe dele faz ao vencê-lo é incrível. Nós vamos mostrar isso. O verdadeiro lado desses jogadores, o lado autêntico das pessoas. Estamos criando conteúdo em vídeo. Mas não é só um conteúdo. São conteúdos regulares.
ME: Qual é o custo que haverá para o acesso à plataforma?
JD: Todos podem se juntar à Otro gratuitamente pelo cartão de crédito. A assinatura mensal custa US$ 3,99 (cerca de R$ 15), mas, para o Brasil e para a América Latina, temos um valor diferenciado, adequado à realidade (o custo para o Brasil será de R$ 9,90 por mês). Nossa premissa é de que nossa assinatura seja, em média, 60% mais barata que o Netflix.
ME: E o tipo de público que vocês estão calculando atingir?
JD: Achamos que nosso conteúdo atrai todo tipo de pessoas. Quando analisamos as redes sociais dos atletas, a faixa etária de 18 a 35 anos corresponde a cerca de 70% das pessoas. Mas achamos que há público para todo tipo de conteúdo que colocaremos. O que é interessante observar é o equilíbrio que existe entre homens e mulheres já nas pessoas que se cadastraram no Instagram da Otro. É uma divisão 50% a 50% de gênero.
ME: E como ter mais alcance da plataforma?
JD: Nossa proposta é criar algo novo para os torcedores. Não é mais só os lances de gols. É um projeto global com um alcance global. Nosso escritório aqui está com todo mundo se preparando para o lançamento. Tem gente para produzir conteúdo em português, espanhol, alemão, indonésio… Parece o escritório das Nações Unidas.
ME: E o Brasil nesse cenário?
JD: O Brasil é um mercado muito importante para nós. Temos Neymar, Gabriel Jesus e David Luiz no nosso time. Estamos contratando gente em São Paulo para produzir o que as pessoas querem. Nosso projeto é ter o país como um dos principais da plataforma.