Um torcedor desavisado que entrasse na loja oficial do San Francisco Giants durante os últimos dias talvez se surpreendesse com uma parede de produtos azuis e amarelos logo na entrada. Não, o time de beisebol mais famoso da Califórnia não tinha trocado o tradicional laranja e preto de seu uniforme. A fama súbita de seu vizinho menos conhecido, o Golden State Warriors, e um olhar atento para oportunidades de negócio estavam por trás daquela novidade.
Nos EUA é assim. Quando o time de basquete de Oakland chegou às finais da NBA pela primeira vez na história da franquia, os gestores da loja dos Giants não hesitaram em fazer o cross de produtos e acrescentaram ao portfólio uma linha bastante completa de Curry e cia. A julgar pelo número de torcedores interessados, eles acertaram em cheio.
A paixão de San Francisco pelos Warriors, no entanto, parece se restringir às lojas de esporte que esperam faturar mais e à meia dúzia de torcedores com camisas do time nas ruas. Seria um exagero dizer que a cidade abraçou o finalista da NBA. No sábado (15), uma multidão assistia sim ao jogo do Giants – que naquele dia perderia para o Arizona por 4 x 2.
Cerca de 15 quilômetros separam os estádios desses dois times mas a diferença entre eles é abissal. A AT&T Arena do Giants fica na parte mais nobre e turística de San Francisco, próximo ao Fisherman’s Wharf e na beira mar. É lindíssima em todos os aspectos. A Oracle Arena do Warriors, por sua vez, fica no meio do nada. Ouvi de mais de um morador de San Francisco que deveria tomar cuidado porque Oakland era perigoso.
Não é bem assim. O trajeto até lá mostra uma cidade que turistas não costumam ver mas nada que nós brasileiros não estejamos acostumados. O acesso, por sua vez, é ótimo e pode ser feito tranquilamente por transporte público. Em apenas 30 minutos via BART, uma espécie de trem local, chega-se ao estádio do Golden State. Aos estádios, na verdade, porque ali fica também a arena do Oakland Raiders e do Athletics.
O plano era almoçar em algum bar de esportes e comer um hambúrguer enquanto assistia ao aquecimento do jogo. Mas não existem restaurantes ali. Existe um grande estacionamento, largas avenidas e muitos, muitos carros. A sensação é estranha. Na hora, veio a associação com a Arena Corinthians. Até porque uma vez do lado de dentro, o estádio é incrível e aí começa a verdadeira NBA Experience.
Tive a incrível sorte de descer ao nível da quadra e ficar em um dos camarotes. Vi tudo aquilo de muito perto. Foi incrível! A vibração da torcida amarela é algo indescritível, uma final de NBA é definitivamente a materialização do conceito de sportainement. Ou onde mais você vê o Metallica tocando o hino nacional americano na abertura de um jogo?
A capacidade de tornar tudo “patrocinável” da Liga parece não ter limites. Pois saibam que existe uma empresa que paga para ter seu nome exibido no call review. Seria como ter o Tira-Teima sendo oferecido por alguém. E não é genial? Quantas vezes isso acontece por partida? Ninguém para ser se importar.
É bem verdade que a ativação dos patrocinadores em si deixou a desejar. Esperava muito e não vi nada digno de registro. Mas nem isso tirou o brilho daquela noite, com mais um duelo memorável de LeBron x Curry – e os brasileiros ainda tiveram a sorte de ver um Leandrinho inspirado.
Dentro do camarote, o mais divertido foi ver o zagueiro campeão mundial da Alemanha Mertesacker passar desapercebido – eu mesmo não o reconheci. Nos EUA, ele é apenas mais um sujeito alto. A identidade secreta do craque só veio à tona quando uma TV japonesa apareceu para entrevistá-lo. Os americanos então foram tirar fotos e perguntar onde ele jogava. “Arsenal”, respondeu num misto de timidez e jeitão de quem preferia mesmo era assistir à partida em paz.
Quando ele tirava selfies desajeitados, me ofereci para ajudar. Não cortei o pescoço dele na foto mas ao devolver a câmera, comentei que era brasileiro. Ele apenas me devolveu um “respect”.
O verdadeiro rei do camarote também era loiro mas tinha pelo menos 30 anos a mais. Era um ator de Miami Vice. Extrovertido, popular e acostumado com aquilo, distribuía autógrafos e tirava fotos com todos. Ele só perdeu seu posto quando chegou ao local o rei da cidade.
Um tal de Chris Mullin. Hall of Fame da NBA, membro do Dream Team e um dos maiores ídolos da história do Golden State. Só isso. Tirou fotos com fãs e conversou com outros ex-jogadores que trabalhavam na transmissão da ESPN americana.
Não tive a oportunidade de perguntar a ele como ele se sentia vendo Stephen Curry conduzir a equipe na sua maior campanha em muitas décadas, mas tenho certeza de que ele estava feliz em passar adiante sua coroa. Todos ali estavam.
O final daquilo todo mundo já conhece. Golden State Warriors campeão da NBA.
* Renato Mendes é graduado em Comunicação pela PUC-SP e cursando pós-graduação em Finanças pela Saint Paul – Escola de Negócios, Renato tem mais de quinze anos de experiência de mercado. Nos últimos quatro anos, foi executivo da Netshoes, maior e-commerce esportivo do mundo, onde liderou os times de Marketing & Communications e Corporate Affairs para a América Latina.Foi membro dos comitês de varejo eletrônico da Câmara E-Net e do IDV. É professor de E-commerce e Social Media nos principais cursos do país. Em 2014, foi eleito pelo Comunique-se o Executivo do Ano na categoria de Comunicação Corporativa.