Duas reportagens veiculadas no último fim de semana, uma da revista “Veja” e outra do programa “Fantástico”, da TV Globo, acusam o Ministério do Esporte e o ministro da pasta, Orlando Silva Junior, de participarem de um esquema de desvio de verba pública por meio do programa social Segundo Tempo.
Uma das bandeiras do Ministério, o programa social, que tem como objetivo oferecer a prática de atividades esportivas para crianças carentes, estaria sendo usado para desvio de verbas por meio da contratação de empresas de fachada e de pessoas ligadas ao PCdoB, partido do ministro do Esporte.
No sábado, a “Veja” publicou reportagem em que o policial militar João Dias Ferreira diz ter entregue dinheiro na garagem do prédio onde fica o Ministério do Esporte a Orlando Silva Junior. Na reportagem, Ferreira, que está preso desde o ano passado acusado de participar de um esquema de desvio de dinheiro no Ministério do Esporte, afirma que algumas de suas empresas participavam de um esquema em que cerca de 20% da verba que recebia para projetos sociais vinculados ao Segundo Tempo era destinada a pessoas ou instituições designadas pelo PCdoB.
Os projetos ligados ao Programa Segundo Tempo eram usados para o esquema, de acordo com a reportagem da “Veja”. Algumas das ONGs que recebiam a verba contratavam empresas de fachada para a execução de serviços ou, então, usavam “laranjas” para desviar recursos.
Esse modus-operandi foi, inclusive, a denúncia também ligada ao Ministério do Esporte feita pelo “Fantástico” na noite de domingo. A reportagem do programa de televisão mostra que a ONG Pra Frente Brasil, comandada pela ex-jogadora de basquete Karina, não estaria usando corretamente a verba destinada a ela para programas sociais do projeto Segundo Tempo.
Maior beneficiária do programa do Ministério, a ONG de Karina recebeu R$ 28 milhões nos últimos seis anos. Desse montante, mais de R$ 10 milhões foram parar nos cofres da empresa RNC, responsável pelo fornecimento de lanches para as crianças atendidas pelo projeto e principal fornecedora contratada pela Pra Frente Brasil. Em janeiro de 2010, a empresa teria recebido R$ 4,47 milhões para fornecer durante 21 meses os lanches das crianças atendidas pelo programa. O valor representa um gasto diário de cerca de R$ 500 com as refeições.
Baseada em Campinas, no interior de São Paulo, a RNC é de propriedade de Reinaldo Morandi. Quando questionado com o microfone da reportagem do “Fantástico”, o executivo negou ter qualquer vínculo com Karina, mas, em uma gravação feita por meio de uma c”mera escondida, Morandi afirma ser assessor da ex-jogadora e presidente da ONG. Karina e Morandi são também vereadores eleitos pelo PCdoB na cidade de Jaguariúna, no interior paulista.
Orlando Silva Junior, que estava no México acompanhando os Jogos Pan-Americanos, retornou ao Brasil após a publicação da reportagem da “Veja”. No domingo mesmo, o ministro deu entrevista à Globo e afirmou ser mentira as declarações publicadas na revista. Silva Junior admitiu, ainda, que podem existir falhas na aplicação dos recursos destinados à ONG Pra Frente Brasil. De acordo com o “Fantástico”, o convênio com a entidade não será renovado pelo Ministério do Esporte.