Plataforma de noticiário de futebol com conteúdo criado apenas por torcedores, o 90MiN busca comprar empresas de mídia para crescer no Brasil. Após completar três anos de atuação no mercado nacional, a marca da empresa Minute Media quer agora ganhar mais relevância dentro do país.
“Mundialmente, a marca vai muito bem, mas no Brasil a gente ainda está começando. Sabemos que muita gente não nos conhece. Se você vai aos Estados Unidos ou Londres, somos bastante conhecidos. Primeiro, queremos fazer algumas aquisições que sejam extensões para o 90MiN em mercados estratégicos. Sabemos que somos jovens, ainda em crescimento, então procuramos fazer algumas aquisições”, disse Asaf Peled, CEO da Minute Media, em entrevista à Máquina do Esporte.
Asaf Peled é o CEO da Minute Media (Foto: Divulgação)
Foi com essa estratégia que a empresa cresceu nos Estados Unidos e, no último mês de junho, levantou US$ 120 milhões numa rodada de negócios. Agora, a meta é ampliar também a oferta de conteúdo no Brasil, por meio das plataformas DBLTAP (e-Sports) e The Big Lead (esportes americanos).
“Queremos também crescer trazendo algumas empresas que já temos globalmente, mas que ainda não possuem conteúdo em português, como e-Sports e esportes americanos”, complementou Peled.
Atualmente, 50% do negócio da Minute Media está na venda da tecnologia da plataforma para empresas de mídia que não possuem um braço digital consolidado.
Leia a seguir a entrevista com o executivo:
Máquina do Esporte: Como a Minute Media consegue crescer num ambiente em que as empresas de mídia encontram bastante dificuldade?
Asaf Peled: Temos acompanhado nos últimos anos, globalmente, que as empresas de mídia têm sofrido bastante com as mudanças. O que percebemos, enquanto boa parte das empresas têm afundado, é que nós conseguimos crescer graças ao uso da tecnologia. Nós começamos em Tel Aviv, um mercado tecnológico. Nós cobrimos esporte, mas somos uma nação fraca em esporte. Acreditamos que usar a tecnologia é o principal caminho para continuar a crescer. No Brasil, as pessoas conhecem a gente pelo 90MiN, mas nós temos usado uma plataforma para publicações que nós criamos para desenvolver vários outros negócios de mídia. O 90MiN é uma das nossas plataformas.
ME: O caminho foi buscar novas marcas para investir?
AP: Três anos atrás nós percebemos que haviam várias empresas de mídia que eram muito tradicionais e que tinham pouco conhecimento de tecnologia. Então decidimos abrir nossa plataforma e convidamos outras empresas de mídia para utilizarem-na e licenciarem seus conteúdos. Hoje, temos 75 grandes publicações e parceiros que licenciam nossa plataforma. A boa notícia é que nós não dependemos somente do 90MiN. Hoje, esse negócio B2B responde por metade de nosso faturamento, então é por isso que temos crescido tão rapidamente. Não dependemos apenas do conteúdo, da mídia ou da tecnologia.
ME: Informação hoje é commoditie, um bem acessível a todos. O segredo então seria como distribuir esse conteúdo?
AP: A razão pela qual começamos o projeto era porque percebemos que a informação está virando commoditie. Não em alguns segmentos, como ciência e tecnologia, mas no futebol, sem dúvida. Por conta disso, pensamos: “por que gastar tanto dinheiro para produzir um conteúdo que está se tornando um commoditie”? Se esse é o caso, então nós também podemos criar conteúdo, mas que seja algo feito pelos fãs e com baixo custo, desde que encontremos outros caminhos para diferenciar o negócio.
ME: Ter alcance global impacta de que forma no negócio?
AP: Nós oferecemos um conteúdo que é feito pelos fãs e para os fãs. Existem muitos veículos tradicionais que produzem conteúdo de forma tradicional. O 90MiN é considerado pelos fãs porque é ele quem produz o conteúdo. Por outro lado, muitas marcas querem falar com o fã de maneira autêntica. E as marcas querem cada vez mais ter um alcance global para suas ações, mas comunicando-se de forma específica. As empresas que trabalham conosco precisam de mensagens específicas para cada mercado em que elas atuam. E temos condições tecnológicas para fazer essa entrega.
ME: Quais os planos para o mercado brasileiro?
AP: Uma de nossas principais metas é ser uma marca de alcance global, ser a número 1 em futebol mundialmente. E você não consegue ser uma marca líder no mundo [do futebol] se não estiver no principal mercado, que é o Brasil. Mundialmente a marca vai muito bem, mas no Brasil a gente ainda está começando. Nós sabemos que muita gente não nos conhece. Se você vai aos Estados Unidos ou Londres, somos bastante conhecidos.
ME: E como vão fazer para mudar isso?
AP: Existem três principais caminhos para isso. O primeiro é buscarmos fazer algumas aquisições. Queremos fazer algumas aquisições que sejam extensões para o 90MiN em mercados estratégicos. Nós sabemos que somos jovens, ainda em crescimento, então procuramos fazer algumas aquisições. Queremos também crescer trazendo algumas empresas que já temos globalmente, mas que ainda não possuem conteúdo em português, como e-Sports e esportes americanos.
ME: Dentro da produção de conteúdo do 90MiN, existem coisas feitas por jornalistas?
AP: Hoje, 90% do conteúdo que criamos é feito pelos fãs. Mas nós provemos treinamento, trabalhamos com universidades para que essas pessoas possam se qualificar. Nós adoramos ver funcionários que começaram escrevendo para nós e hoje estão numa BBC, numa Sky Sports. Nós temos hoje, globalmente, entre 4 e 5 mil fãs-colaboradores. Cerca de 20% deles produz cerca de 80% do conteúdo. Dentro de nossa estrutura por volta de 60 pessoas dentro da empresa são ligadas a conteúdo. Eles não necessariamente escrevem, atuam mais como curadores e editores desse conteúdo produzido pelos colaboradores.
ME: Esse modelo de produção de conteúdo é similar ao que o Torcedores.com faz no Brasil. Esse seria o melhor caminho para as empresas de mídia no esporte?
AP: Sem dúvida que ser uma das primeiras empresas do mundo a ter os torcedores produzindo conteúdo é uma das chaves para o nosso sucesso. Nós temos basicamente três fatores que nos levam a ser bem-sucedidos. A primeira é nossa decisão de usar a tecnologia. A segunda é ter o fã como produtor do conteúdo. E a terceira é ser uma marca global. Demorou um pouco para nós acertarmos esse modelo de negócio, mas hoje ele funciona bem.
ME: O repórter de vocês, Tomer Savoia, tornou-se uma celebridade na Rússia durante o Mundial de 2018 e virou um embaixador da empresa tornando-se um influenciador digital. Apoiar-se nos influenciadores é uma estratégia para a marca crescer?
AP: A história com Tomer foi muito engraçada. Encontrei-me com ele na Rússia e não conseguíamos sentar para almoçar, todo mundo queria tirar uma foto. Depois, fui ao aeroporto, e tinha uma enorme propaganda com ele! Foi algo que aconteceu de forma espontânea (Tomer virou uma celebridade russa durante a Copa ao ser exibido num vídeo com torcedores brasileiros antes de um jogo falando em russo. O sucesso dele nas redes sociais fez com que fechasse um contrato para estrelar campanha publicitária no país). Mas foi um caso isolado. Nosso negócio não é baseado em achar alguém interessante, um influenciador, e usá-lo para a gente. Não dependemos do influenciador para produzir conteúdo e crescer, mas aprendemos com o Tomer que podemos construir nossa marca a partir de um influenciador, sim. Mas só se for algo espontâneo, como foi com ele.
ME: Existem mais esportes que possam ter um trabalho similar ao que existe com o 90MiN? Algo que tenha alcance e audiência global para gerar conteúdo e ser financeiramente viável?
AP: Com certeza o e-Sports é algo que precisamos trazer, e também achamos que há uma chance de crescimento para os esportes americanos no Brasil. Globalmente, outro esporte que também é interessante é o automobilismo. Precisamos de mais coisas que movimente as paixões das pessoas. O tênis, por exemplo, é um esporte global, mas que não tem essa paixão, esse envolvimento.