Nenhum dos artistas, africanos ou não, confirmados para o show de abertura. Nenhuma autoridade local ou internacional. Nenhuma coreografia, apresentação ou intervenção pirotécnica. Se existe um segredo principal sobre a abertura da Copa do Mundo de 2010, que será realizada na África do Sul, trata-se da presença de Nelson Mandela. O mistério é tão grande que chegou a transformar em evento a programação do líder político para o dia do primeiro jogo do torneio. Prestes a completar 82 anos, Mandela é um dos principais nomes da história da África do Sul. Ele foi um dos principais opositores do apartheid, regime de segregação racial vigente na região até a década de 1990. Ganhou o prêmio Nobel da paz em 1993, presidiu o país entre 1994 e 1999 e se afastou da política para trabalhar em iniciativas de cunho humanitário. A idade avançada e a relev”ncia da figura de Mandela criaram mistério sobre a agenda do dirigente. Para evitar desgaste e minimizar a chance de atentados, o estafe de Mandela não costuma divulgar com antecedência a agenda dele. No caso da Copa do Mundo, contudo, a falta de informações sobre a presença de Mandela no estádio aumentou o debate sobre o assunto. A indefinição criou situações inusitadas, como um neto do dirigente ter descartado e outro ter confirmado a ida dele ao Soccer City para o jogo entre África do Sul e México. E as duas declarações dicotômicas aconteceram em um intervalo inferior a uma semana. ?Precisamos começar a considerar a idade dele. Em um dia frio, seria um desafio levar meu avô ao estádio. Ele não estará lá?, disse o neto Mandla Mandela, na semana passada, à imprensa local. ?Não sabemos ainda por quanto tempo, mas ele estará no estádio?, respondeu Nikosi Zwelivelile Mandela, também neto do político, em outra entrevista coletiva. O presidente do comitê organizador local da Copa do Mundo de 2010, Irvin Khosa, preferiu adotar um discurso mais pessimista: ?Sabemos que ele trabalhou muito e que esse será um evento importante para ele, mas ele já tem uma idade avançada e não podemos saber como estará até a data do jogo?. A discussão sobre a presença de Mandela no estádio não tem apenas um viés político. A decisão dele influencia diretamente a credibilidade da gestão do Mundial, evento que o dirigente se empenhou para levar à África do Sul. Por conta disso, existe uma ?pressão? ? ou talvez apenas uma torcida ? das autoridades envolvidas na Copa do Mundo para que Mandela proporcione uma surpresa positiva no dia da abertura do evento. ?Sabemos que, se ele não estiver, seu espírito estará lá. Mas seria grandioso poder vê-lo lá?, opinou Jacob Zuma, atual presidente sul-africano.